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Rebaixamento aprofunda reformas na zona do euro

Redução na nota da França e de outros oito países deve acelerar novo pacto de estabilidade

Por ANDREI NETTO, CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:

Líderes políticos da Europa se mobilizaram na manhã de ontem para anunciar o aprofundamento das reformas na governança da zona do euro e no interior de suas economias. Doze horas após o anúncio do rebaixamento da França - que perdeu a nota máxima, AAA - e de outros oito países da união monetária pela agência Standard & Poor's, o primeiro-ministro francês, François Fillon, informou que o Palácio do Eliseu prepara medidas para retomar a competitividade e sanear as finanças. Em Berlim, a chanceler Angela Merkel disse que o rebaixamento deve acelerar a implantação do novo pacto de estabilidade do bloco.O objetivo dos discursos é tranquilizar a opinião pública e sobretudo os mercados, antes da abertura dos pregões, na segunda-feira. Em toda a Europa, a decisão da S&P de retirar o triplo A da França e da Áustria e de rebaixar Itália, de Espanha, Portugal, Chipre, Eslováquia, Eslovênia e Malta foi encarada como um sintoma da perda de confiança dos investidores em relação à zona do euro, e não apenas quanto aos países prejudicados.Mas o fato é que o rebaixamento atingiu a autoestima dos governos. Em Paris, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, envolvido na campanha à reeleição, desapareceu das câmeras e segue sem comentar o rebaixamento. Em seu lugar, Fillon convocou a imprensa e sugeriu que o tema não seja subestimado, mas também seja tratado "sem drama". "A França é um país seguro, no qual os investidores têm confiança e podem ter confiança", ressaltou, garantindo: "As agências de rating são termômetros úteis, mas não são elas que fazem a nossa política".Fillon lembrou que o país está, ao lado dos Estados Unidos, "entre os melhores do mundo" na classificação da S&P. Em sua opinião, os mercados financeiros reagiram com frieza à notícia, que era "esperada, mas fora do tempo, ante os esforços feitos em relação à zona do euro". O premiê assegurou ainda que o país não adotará um novo plano de rigor, mas tem margem de corte de € 6 bilhões no orçamento de 2012, caso seja necessário. Fillon disse que vai "persistir" nas reformas econômicas.Reação. Em Viena, na Áustria, a reação à perda do AAA foi mais intensa. Em comunicado, a chancelaria austríaca questionou a seriedade da análise da S&P. "É incompreensível quando uma das três agências dos Estados Unidos decide avançar sozinha e rebaixar países da zona do euro, ou dar a eles uma perspectiva negativa", diz a nota.Mesmo na Alemanha, país que não perdeu o triplo A, a decisão da agência foi posta em dúvida. Em pronunciamento a líderes de seu partido, a chanceler Angela Merkel minimizou a atitude da S&P, afirmando que "se trata de uma agência entre três". A chefe de governo admitiu, porém, que "falta um longo caminho até que a confiança dos investidores seja restabelecida", e para tanto medidas estão sendo tomadas para aprofundar a integração e a governança da zona do euro. Tanto Fillon quanto Merkel ressaltaram em seus pronunciamentos a necessidade de avançar rapidamente nas reformas de gestão da zona do euro. Um acordo vem sendo negociado e deve ser finalizado até 31 de janeiro sobre um novo tratado europeu que renovará os compromissos do Pacto de Estabilidade. O texto deve criar sanções aos países com as contas fora dos padrões, assim como reorganizar o direito de voto da União Europeia, eliminando a unanimidade e adotando a maioria "qualificada" de dois terços dos votos. Com essas medidas, Alemanha e França esperam destravar o sistema de decisão em Bruxelas.

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