A expansão de 0,3% da produção industrial em novembro em relação a outubro mostra que a indústria brasileira continua em ritmo moderado e que uma possível recuperação será mais lenta do que o desejado. De janeiro a novembro, a indústria acumula uma alta de apenas 0,4%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A variação positiva entre um mês e outro pode ter sido influenciada por uma base de comparação mais baixa, por causa de uma sucessão de resultados negativos. Já na comparação com novembro do ano passado, a produção industrial recuou 2,5%, o pior resultado desde outubro de 2009. Todas as categorias apresentaram queda, com destaque para bens duráveis (11,5%). "Acho que a indústria ficará devendo em 2012. É bem provável que vá puxar o PIB para baixo mais uma vez este ano (2012)", disse Rogério César de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). "O resultado de novembro não vem salvar o trimestre, muito menos o ano. Em 2011, infelizmente a revisão será para baixo."Em relatório, o Iedi usou a figura de um binóculo invertido para descrever o encolhimento na produção. O Iedi previa crescimento de 1% na atividade industrial para 2011, mas deve revisar esse número para baixo. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) já espera um crescimento de apenas 0,5%.O resultado negativo na produção de bens duráveis foi pressionado pela redução na fabricação de automóveis (17,7%), telefones celulares (19,0%) e eletrodomésticos (2,8%). "Os automóveis e máquinas e equipamentos foram os que mais pressionaram negativamente a produção", afirmou André Macedo, gerente de Análise e Estatísticas Derivadas do IBGE. O segmento de bens de capital, que mostra os investimentos da indústria, caiu pela terceira vez (2,9%). Foi o pior resultado desde outubro de 2009, quando a produção de bens de capital havia recuado 16,9%. "O resultado tem relação com o índice de confiança do empresariado, que andava em baixa, embora agora já comece a ser observada uma melhora para esse indicador", disse Macedo. A taxa de câmbio valorizada, a política monetária restritiva do início de 2011, o acúmulo de estoques e o aumento da incerteza provocada pela crise na Europa foram alguns dos fatores que atrapalharam a indústria. Com os recentes cortes na taxa básica de juros e a reversão de algumas medidas de contenção ao crédito, o sentimento é que o pior passou, de acordo com o pesquisador do Ipea Leonardo Carvalho. Mas ele alerta que algumas condições contrárias à produção persistirão em 2012. "Uma grande parcela dos fatores que prejudicaram a indústria ainda vai continuar em 2012, particularmente o câmbio. Para aumentar a competitividade da indústria, o caminho é reduzir o custo de produzir. O governo devia priorizar investimentos para superar esses gargalos."Os cortes na Selic devem ser um dos principais fatores de contribuição para a retomada da indústria, mas só começarão a surtir efeito na metade do ano. "A defasagem da política monetária impõe desafios para a indústria, por isso são necessárias medidas complementares para elevar a competitividade. Infraestrutura é um ponto que realmente devemos avançar", disse Guilherme Mercês, gerente de Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan).