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Insights de carreira com o headhunter mais influente do Brasil e um estudioso dos hábitos, comportamentos e habilidades que levaram os maiores líderes ao seu lugar de potência

O segredo que nenhum headhunter te conta sobre identidade profissional

Confundir quem você é com o que você faz profissionalmente pode atrapalhar o seu crescimento; veja sete dicas para se conhecer além do trabalho

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Foto do author Ricardo Basaglia

Você já se perguntou o que aconteceria se, de repente, perdesse seu cargo hoje? Não apenas o salário ou o status, mas a maneira como você se vê e como vive? Para muitos profissionais, essa simples reflexão causa um desconforto profundo que vai muito além da questão financeira.

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O “terremoto de identidade” acontece porque estávamos confundindo quem somos com o que fazemos profissionalmente – não apenas nossa rotina é tomada pelos afazeres, mas também nosso foco, nossas expectativas, sonhos, desejos.

A conexão entre identidade e trabalho tem raízes históricas profundas em nossa sociedade. Não é coincidência que os sobrenomes mais comuns em diversos países remetam a profissões: Smith (ferreiro) no mundo anglo-saxão, Müller (moleiro) na Alemanha e Suíça, ou Varga (sapateiro) na Eslováquia. Na Idade Média, o trabalho de uma pessoa era tão definidor que se tornava literalmente parte de seu nome.

Embora hoje nossos sobrenomes não mais reflitam nossas ocupações, a tendência de nos definirmos pelo que fazemos permanece profundamente enraizada em nossa psique coletiva, especialmente no ambiente corporativo.

Saber quem você é fora do trabalho é importante para sucesso profissional e pessoal.  Foto: Liubomyr Vorona

O trabalho nos fornece muito mais que um contracheque. Pesquisas mostram que ele nos proporciona reconhecimento, status, pertencimento, autoestima e reforço de nosso autoconceito. O sociólogo Erving Goffman usa o termo “Absorção total pelo papel” (role engulfment) para descrever como um único papel, como nosso trabalho, pode dominar toda nossa identidade. Esse fenômeno é tão prevalente que, quando nos apresentamos a alguém novo, a pergunta “o que você faz?” geralmente vem logo após o nome, como se essa única faceta pudesse resumir toda a complexidade de quem somos.

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Estudos demonstram através de pesquisas de neuroplasticidade que nossos cérebros estão constantemente se reconfigurando com base em nossas experiências. Quando nos apegamos exclusivamente à nossa identidade profissional, limitamos não apenas nossa autopercepção, mas também nossa capacidade neurológica de adaptação e crescimento.

É como se, ao colocarmos luz demais na parte de nós que está relacionada ao trabalho, apagássemos a importância das outras áreas da vida e comprometêssemos as possibilidades de vivenciar outras coisas, reduzindo nossa pluralidade individual e empalidecendo a intensidade de outras experiências possíveis. Até a criatividade é impactada: a vida fica mais empobrecida – além de ficarmos dependentes das conquistas no trabalho para experimentar bem-estar.

Para ajudá-lo a expandir sua identidade além do cargo, aqui estão sete estratégias práticas baseadas em pesquisas e experiências reais:

  • Reconecte-se com antigas amizades: busque pessoas que o conheceram antes do seu cargo atual. Elas podem lembrá-lo de quem você é além do trabalho, como um amigo leal, um mentor generoso ou um pensador criativo.
  • Questione suas crenças mais rígidas, aquelas que mais influenciam as suas ações: examine a crença de que “seu valor é o que você produz”. Pergunte a pessoas que você respeita: “o que você valoriza em mim?” e “como você vê seu próprio valor como pessoa?”.
  • Explore sua cidade como se fosse um turista: caminhe um pouco ao ar livre e visite lugares onde não vai há tempos.
  • Diversifique suas atividades: invista tempo em hobbies, voluntariado e relacionamentos pessoais. Reserve algum tempo por dia para ficar sem telas.
  • Visualize seu futuro eu: sua identidade não é estática. Pergunte-se: “quem eu quero ser daqui a 5 ou 10 anos?”. Isso ajuda a expandir sua narrativa pessoal além do momento presente.
  • Identifique seus valores fundamentais: valores como integridade, criatividade ou autonomia transcendem qualquer cargo. Eles são a essência de quem você é e podem ser expressos em múltiplos contextos.
  • Busque suporte profissional: um coach ou terapeuta pode ajudá-lo a examinar e ressignificar sua relação com o trabalho, especialmente em momentos de transição.

Nossa identidade é muito mais rica e complexa do que qualquer título profissional. Como o psicólogo Viktor Frankl nos ensinou, o ser humano precisa de um propósito para sobreviver, mas esse propósito não está atrelado ao que fazemos, e sim ao porquê fazemos. Quando nos libertamos da necessidade de nos definir exclusivamente por nosso trabalho, abrimos espaço para uma compreensão mais profunda e autêntica de quem realmente somos.

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Na próxima vez que alguém perguntar “o que você faz?”, experimente responder de uma maneira mais abrangente: “além de [sua profissão], sou alguém que valoriza [seus valores], apaixonado por [seus interesses], e atualmente estou explorando [nova área de interesse].” Essa mudança na forma de se apresentar pode abrir portas para conexões mais profundas e autênticas.

Lembre-se: seu cargo é apenas uma das muitas dimensões que compõem quem você é. A verdadeira trajetória profissional não é apenas sobre ascender na carreira, mas sobre expandir sua própria definição de sucesso e realização. Comece hoje mesmo a explorar quem você em suas várias camadas, facetas e interesses. Pode ter certeza: a vida fica muito mais interessante quando nos permitimos ser mais do que apenas nossa função profissional.

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