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Por que as empresas mais inovadoras pararam de resolver problemas?

Mais de 95% dos novos produtos lançados no mercado fracassam, e não por falta de qualidade ou recursos, e sim porque se concentram em resolver o problema errado

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Foto do author Ricardo Basaglia

Você já parou para pensar em quantas vezes já se pegou imerso em um ciclo interminável de preocupações, ruminando sobre um problema que parece insolúvel, qual seria sua resposta?

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Neste momento, é possível que esteja pensando naquele projeto que não avança. Ou talvez em uma relação profissional desgastada. Ou até mesmo em uma meta ambiciosa que parece cada vez mais distante.

Independentemente de qual seja a situação, arrisco a dizer que a sensação que te domina ao se lembrar disso é a de estar preso em um labirinto, onde cada tentativa de fuga leva a becos sem saída cada vez mais. Gerando um incômodo quase claustrofóbico, tomado por preocupações.

Mas e se eu lhe disser que encontrar a solução não valerá de nada? Ou melhor, a solução só será útil se você se concentrar no problema real — que nem sempre é o que salta diante dos seus olhos.

É preciso buscar estratégias práticas para identificar e resolver problemas reais, em vez de só tentar tapar o sol com a peneira. Foto: deagreez - stock.adobe.com

Para entender isso melhor, é interessante olhar em retrospecto. Afinal, a nossa relação com problemas e desafios mudou drasticamente ao longo da história. Nas sociedades antigas, por exemplo, os problemas eram vistos, em sua maior parte, através de lentes místicas e religiosas. Ou seja, um desafio era interpretado como sinal dos deuses ou resultado de forças sobrenaturais. Visão que levava a soluções baseadas em rituais e oferendas, em vez de análise racional e sistemática.

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Com o advento do Iluminismo e da Revolução Científica, começamos a desenvolver métodos mais estruturados para resolver problemas, estabelecendo as bases do pensamento científico moderno.

Essa evolução continuou com a Revolução Industrial, quando surgiu a necessidade de resolver problemas complexos de produção e logística em larga escala. Desse contexto, nasceram muitas das metodologias de gestão e solução de problemas que utilizamos hoje, principalmente pós-Segunda Guerra Mundial, como PDCA e 5W2H.

Já o século XX trouxe consigo a era da informação. E, com ela, uma nova complexidade: problemas interconectados em escala global, cuja solução com frequência cria outros imprevistos. Por isso, chegamos ao século XXI com uma quantidade sem precedentes de ferramentas e metodologias para resolver problemas, mas, paradoxalmente, muitas vezes nos sentimos mais perdidos do que nunca.

E os dados vão ao encontro disso. De acordo com o artigo publicado pelo MIT, mais de 95% dos novos produtos lançados no mercado fracassam. E não por falta de qualidade ou recursos, e sim porque se concentram em resolver o problema errado. Uma falha grave do processo de desenvolvimento, sobretudo se pensarmos que há pelo menos duas décadas se fala da necessidade de entender a “dor” do cliente.

O que está acontecendo?

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É possível explicar essa falha quando entendemos que o problema é transversal. Segundo uma pesquisa publicada pela Harvard Business Review, 85% dos executivos acreditam que suas empresas são ruins em diagnosticar problemas. O que os faz desperdiçar recursos valiosos tentando lidar com as consequências, em vez de atingir a raiz do problema.

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Então, talvez seja a hora de pararmos de buscar soluções para problemas que não existem e nos concentrarmos, de fato, em identificar o que precisamos — enquanto negócio e enquanto sociedade.

Para lidar com esse cenário complexo e desafiador, aqui estão seis estratégias práticas e para identificar e resolver problemas reais — em vez de só tentar tapar o sol com a peneira:

  • Pratique o questionamento recursivo: para isso, use a técnica dos “5 Porquês”, desenvolvida pela Toyota. Para cada problema, pergunte “por quê?” cinco vezes consecutivas, aprofundando-se até encontrar a causa-raiz. Por exemplo, se suas ideias são constantemente rejeitadas no trabalho, em vez de deduzir que as pessoas não vão com a sua cara, questione as razões por isso acontecer — pode ser uma questão de comunicação, timing ou alinhamento estratégico.
  • Aplique o princípio da inversão: inspirado no pensamento de Charlie Munger, sócio de Warren Buffett, comece pensando no que pode dar errado. Em vez de perguntar “Como posso resolver este problema?”, pergunte “O que poderia piorar este problema?”. A inversão costuma revelar bons insights sobre a verdadeira natureza do desafio e como enfrentá-lo.
  • Adote a perspectiva sistêmica: problemas raramente existem de maneira isolada. Por isso, mapeie as conexões do seu desafio atual com outros aspectos da sua vida ou negócio. Esta visão holística pode revelar que o que parece ser um problema financeiro é, na verdade, uma questão de processos ou cultura.
  • Implemente o método da hipótese múltipla: desenvolva pelo menos três diferentes hipóteses sobre qual pode ser o verdadeiro problema. Este tipo de exercício força o cérebro a considerar alternativas e, como consequência, propor soluções.
  • Utilize um framework de recontextualização: descreva seu problema em um único parágrafo e depois reescreva-o de três maneiras diferentes, cada uma delas enfatizando um aspecto diferente da situação. Esta técnica costuma revelar que o que parecia ser um problema técnico pode ser, na verdade, um desafio de comunicação ou relacionamento.
  • Pratique a técnica do observador neutro: imagine que você precisa aconselhar um amigo que esteja com exatamente o mesmo problema que o seu. Com frequência, temos mais facilidade em olhar o problema dos outros com mais neutralidade, distanciamento emocional, e até empatia, o que nos permite enxergar aspectos diferentes da questão.

Pareceu trabalhoso? Pois saiba que desperdiçar tempo, disposição e recursos para solucionar o problema errado é ainda pior. Lembre-se de que todas essas estratégias convergem para um ponto fundamental: a qualidade das soluções que encontramos está diretamente relacionada à precisão com que definimos nossos problemas.

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Não à toa, Albert Einstein sabiamente observou, “Se eu tivesse uma hora para resolver um problema, gastaria 55 minutos pensando sobre o problema e 5 minutos pensando nas soluções.”

Por isso, o caminho para resolver os maiores desafios começa com a coragem de questionar nossas premissas e com a disposição para enxergar além do óbvio. Afinal, quando você muda a maneira como olha para os problemas, os problemas para os quais você olha mudam também.

Então, encare seu maior desafio atual e use novas estratégias. Você pode descobrir que o que parecia impossível é apenas uma oportunidade disfarçada esperando ser descoberta. Afinal, como diria o filósofo Naval Ravikant, “Não existem problemas não resolvidos, apenas problemas mal definidos.”

O poder de transformar seus desafios em oportunidades está em suas mãos. Que tal começar agora?

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