Ricos evitam maior compromisso no comércio

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Por Agencia Estado
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O posicionamento inicial dos países para a nova rodada de negociação comercial, lançada na reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Doha, atenuou o tom do Consenso de Monterrey na crítica ao protecionismo dos países ricos. A avaliação foi de Mike Moore, diretor-geral da OMC, em entrevista à imprensa nesta quarta-feira. O Consenso de Monterrey é o documento, já aprovado, que será assinado ao final da Conferência sobre o Financiamento ao Desenvolvimento, que vai até sexta-feira, nesta cidade industrial do norte do México. "Se já não houvesse uma negociação comercial em andamento, a declaração poderia ser mais forte", disse Moore. O parágrafo 28 da Declaração de Monterrey "reconhece" que uma série de barreiras comerciais e de mecanismos que distorcem o comércio, como subsídios, antidumping, picos e escaladas tarifárias, são "preocupações particulares" dos países em desenvolvimento, mas não chega a apontar os países ricos como o principal alvo da crítica. Moore procurou dar uma demonstração de otimismo em relação à liberalização comercial e à abertura dos mercados para os países pobres e de renda média. Os benefícios que os países em desenvolvimento podem ganhar com a liberalização comercial da Rodada de Doha são cinco vezes maiores do que a ajuda externa total aos países pobres, e oito vezes maiores do que o programa de perdão da dívida externa daqueles países, observou Moore. Ele notou ainda que o prazo de três anos para que sejam concluídas as negociações da Rodada de Doha é muito curto, e o mundo vai entrar em um ritmo fortíssimo de negociações comerciais. Diante disso, e da queda-de-braço de Doha para se chegar a um documento de consenso para lançar a nova rodada - ele continuou -, não era de esperar mesmo que em Monterrey os países se arriscassem a avançar mais no assunto. Essa, porém, não é a posição do Brasil, como ficou claro na apresentação feita nesta quarta, em uma sessão oficial da Conferência sobre o Financiamento ao Desenvolvimento, pelo embaixador Clodoaldo Hugueney, subsecretário-geral de Assuntos Econômicos do Itamarati. "As políticas comerciais são um ingrediente essencial do crescimento e do desenvolvimento", disse Hugueney, e "o consenso de Doha para lançar uma rodada de desenvolvimento (como vem sendo chamada a nova rodada de liberalização comercial, que teoricamente atenderá particularmente às necessidades dos países em desenvolvimento) não pode ser minado por medidas protecionistas. Para o embaixador, se os países em desenvolvimento não contarem com mercados abertos e justos para os seus produtos, não só o desenvolvimento estará comprometido, mas também o apoio à integração com a economia internacional. Hugueney defendeu que, entre as atividades de monitoramento que o Fundo Monetário Internacional (FMI) faz sobre os países-membros, deveria ser incluída a análise das restrições comerciais dos países ricos que prejudicam as nações em desenvolvimento. Moore, por sua vez, descartou a idéia de que o protecionismo tenha avançado recentemente, como, por exemplo, no caso das restrições impostas pelos Estados Unidos à importação de aço por três anos, e as reações àquela decisão. Para o diretor-geral da OMC, é normal que disputas comerciais surjam enquanto se negocia uma nova rodada, e "é positivo que os países busquem os remédios da OMC para resolver esses problemas", uma referência ao fato de que muitas destas disputas estão sendo canalizadas para os mecanismos de resolução de conflitos da Organização Mundial de Comércio.

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