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Economista, doutor pela Universidade Harvard e professor da PUC-Rio, Rogério Werneck escreve quinzenalmente

Opinião|Que candidato se mostrará mais vulnerável à agressividade da campanha presidencial?

Telhado de vidro de Bolsonaro envolve fatos relativamente recentes, martelados com grande alarde na mídia; o de Lula decorre de fatos mais remotos, embaçado pelo tempo

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Atualização:

A campanha presidencial promete ser brutalmente agressiva. Em entrevista ao Correio Braziliense, em 7/8, o ministro-chefe da Casa Civil não deixou dúvidas sobre a agressividade com que deverá ser conduzida a campanha de Bolsonaro. Não faltará ao PT capacidade de revidar. Basta lembrar quão longe o partido foi capaz de chegar, em 2014, quando partiu para o aniquilamento da candidatura de Marina Silva no horário eleitoral gratuito, para assegurar a reeleição de Dilma Rousseff.

Haverá quem alegue que a televisão já não tem a importância que tinha e que as intenções de voto já chegaram a um grau de cristalização irreversível. Duas alegações discutíveis.

Boa parte do eleitorado parece determinada a votar num candidato pela simples aversão que nutre pelo outro Foto: Taba Benedicto/Estadão - 2/8/2022

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As certezas sobre a suposta irrelevância da propaganda eleitoral gratuita, com base na experiência de 2018, parecem precipitadas. Na verdade, em decorrência do atentado de que foi vítima, Bolsonaro acabou tendo muito mais destaque na televisão do que todos os demais candidatos juntos.

Quanto à suposta cristalização das intenções de voto, é preciso lembrar que se trata de uma eleição muito peculiar. Boa parte do eleitorado parece determinada a votar num candidato pela simples aversão que nutre pelo outro. Um tipo de voto que deverá requerer grande esforço de autoengano. Tanto de quem, a contragosto, se diz disposto a votar em Lula como de quem votará, contrariado, em Bolsonaro.

Numa disputa em que as campanhas, de lado a lado, deverão ser tão brutais e virulentas, tais esforços de autoengano estarão submetidos a enorme estresse. E intenções de voto podem se mostrar menos cristalizadas do que hoje se imagina. É difícil prever a seriedade dos danos à imagem com que cada um dos candidatos terá de lidar. Mas há boas razões para crer que, ao final da batalha, quando a fumaça se dissipar, Lula possa ter sofrido mais danos que seu adversário.

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O telhado de vidro de Bolsonaro envolve fatos relativamente recentes, martelados com grande alarde na mídia e nas redes sociais. Por mais execráveis e revoltantes que possam ser, são fatos dos quais o eleitorado já tem amplo e claro conhecimento.

Já os telhados de vidro de Lula decorrem de fatos mais remotos, embaçados pelo tempo, que, se rememorados em cores fortes, numa campanha agressiva, poderão se mostrar bem mais danosos. Lula e o PT podem vir a ser confrontados, em mau momento, com a conta do negacionismo a que se entregaram, em sua inarredável recusa a reconhecer os erros que cometeram nos desastrosos descaminhos a que conduziram o País.

Opinião por Rogério Werneck

Economista, doutor pela Universidade Harvard, é professor titular do departamento de Economia da PUC-Rio

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