BRASÍLIA - Mesmo com a Selic (a taxa básica da economia) congelada e a inadimplência em níveis baixos, o custo do rotativo do cartão de crédito voltou a subir no Brasil. A taxa de juros no rotativo aumentou 1,9 ponto porcentual em maio em relação a abril, atingindo 279,9% ao ano, conforme dados divulgados ontem pelo Banco Central. Um ano antes, em maio de 2018, a taxa era 37,3 pontos porcentuais menor, de 242,6%.
Os porcentuais correspondem às taxas cobradas no rotativo regular, quando o cliente do banco pagou pelo menos o valor mínimo da fatura do cartão de crédito. Chama a atenção o fato de a Selic, que serve como referência para os bancos captarem recursos que serão emprestados, estar estável em 6,50% ao ano desde março de 2018.
Já a inadimplência no rotativo do cartão, apesar de ter subido 0,6 ponto porcentual em maio ante abril, atingiu o porcentual de 34,8% no mês passado – um resultado distante do nível recorde de 40,4% de dezembro de 2015.
A taxa de juros de 279,9% ao ano em maio significa, na prática, que, se o cliente do banco ficar devendo R$ 5.000 no rotativo do cartão, após um mês a dívida sobe para R$ 5.590. Para quem não paga o valor mínimo da fatura, o juro é maior, de 314,0% ao ano, e a dívida atinge R$ 5.630.
O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, disse ontem que, desde outubro do ano passado, existe um movimento de alta nos juros do cartão. Segundo ele, o aumento visto em maio está ligado a reajustes promovidos pelos bancos nos juros cobrados.
Rocha pontuou ainda que o rotativo do cartão é uma modalidade emergencial de crédito, que deve ser usada apenas em momentos de maior necessidade. O mesmo vale para o cheque especial – outra modalidade de crédito campeã de juros.
Em maio, o juro médio do cheque especial caiu 2,4 pontos porcentuais, para 320,9% ao ano. No entanto, um ano antes, em maio de 2018, a taxa média era menor, de 311,9% ao ano.
A boa notícia é que houve uma queda de 1,0% em maio ante abril no saldo das operações com cheque especial. Elas somaram R$ 25,4 bilhões. “Não é de se desejar um aumento nestes saldos, já que são usados apenas em emergências”, disse Rocha.
Recuperação
Os dados do BC mostraram ainda que, considerando todas as operações disponíveis para pessoas físicas e para empresas, o crédito segue em recuperação no Brasil. Em maio, o saldo total das operações de crédito subiu 0,6%, para R$ 3,287 trilhões. Nos 12 meses encerrados em maio, o avanço é de 5,5%.
Isoladamente, o saldo das operações de crédito livre – aquelas em que os bancos não utilizam recursos da caderneta de poupança ou do BNDES – subiu 1,4% em maio. Já o crédito direcionado (poupança e BNDES) seguiu em trajetória de retração, com recuo de 0,5% no mês passado.
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