O Banco Central colocou o pé no freio e iniciou um ritmo mais lento na redução da taxa de juros no Brasil. Após reduzir os juros básicos da economia (taxa Selic) em 1 ponto porcentual por quatro reuniões consecutivas do Comitê de Política Monetária (Copom), a partir de abril, a instituição anunciou nesta quarta-feira, 25, corte de 0,75 ponto porcentual e indicou a intenção de, no encontro de dezembro, aplicar um corte ainda menor.
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Mesmo assim, a taxa básica chegou aos 7,5% ao ano, o menor porcentual em mais de quatro anos, desde abril de 2013. Foi o nono corte consecutivo da Selic, num ciclo iniciado no final de 2016.
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A desaceleração era largamente esperada pelos economistas do mercado. Apesar de a inflação estar controlada e de a economia ainda não ter ganhado tração, a Selic não teria mais tanto espaço para recuar sem pressionar os preços mais à frente, a partir de 2018.
Para os economistas do mercado financeiro, a mensagem foi clara: a Selic cairá mais 0,5 ponto porcentual em dezembro, para 7% ao ano. Se confirmado, este será o menor nível para a Selic desde que a taxa é utilizada como referência para a política monetária. De um total de 78 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, 76 esperavam corte de 0,75 ponto porcentual nesta quarta-feira.
Para o economista Luciano Sobral, do Santander, a tendência é de corte de 0,5 ponto em dezembro, mas o debate sobre até onde a Selic poderá ir vai continuar, com analistas vendo espaço para uma taxa em 7%, 6,75% ou mesmo 6,5% ao ano. A resposta, segundo ele, dependerá de fatores como o comportamento da inflação.
No comunicado que acompanhou a decisão, o Copom afirmou que o cenário evoluiu como era esperado e lembrou que a taxa já vinha em queda há várias reuniões, o que tornou mais adequado a redução do ritmo de cortes. “Para a próxima reunião, caso o cenário básico evolua conforme esperado, e em razão do estágio do ciclo de flexibilização, o Comitê vê, neste momento, como adequada uma redução moderada na magnitude de flexibilização monetária”, registrou o BC.
O colegiado lembrou ainda que o corte da Selic continuará dependendo da evolução da atividade econômica, das estimativas sobre até onde a taxa básica pode ir, das projeções de inflação e dos riscos econômicos – em especial, daqueles ligados ao andamento das reformas.
“O comunicado reforçou nossa aposta de corte de 0,5 ponto porcentual (em dezembro), para 7% ao ano, terminando assim o ciclo e ficando neste patamar até o fim de 2018”, afirmou a economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Helena Veronese.
Consumidor. Enquanto a Selic, acumula queda de 6,75 pontos porcentuais em um ano, o crédito oferecido pelos bancos praticamente andou de lado ao longo desse período. Enquanto em outubro do ano passado a Selic estava a 14,25%, as instituições emprestavam dinheiro na modalidade consignado privado a 45,05% ao ano, 3,06% ao mês. Agora que a taxa básica alcançou 7,50%, o crédito médio nos bancos gira em torno de 43,9% ao ano, 3,0% ao mês.
Na avaliação do professor de Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Joelson Sampaio, essa demora na redução do crédito de balcão para o consumidor final é normal. Segundo ele, o tomador de crédito só vai começar a sentir o impacto da queda na Selic a partir do ano que vem: “Há uma demora normal de quatro ou seis meses. Apesar de este tempo já ter passado, ainda assim as instituições bancárias querem analisar o cenário político para evitar riscos.”/COLABORARAM ANA CAROLINA NEIRA, THAÍS BARCELLOS E ALTAMIRO SILVA JUNIOR