Siderúrgica Aperam vende crédito de remoção de carbono

Aperam fechou contrato para vender crédito à canadense Invert por R$ 610 mil; negociação veio após unidade em Timóteo (MG) alcançar balanço de carbono neutro

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Foto do author Fernanda Guimarães
Atualização:

A subsidiária brasileira da siderúrgica Aperam, fruto do desmembramento da unidade de inox da ArcelorMittal, acaba de fechar a venda de crédito de remoção de carbono no País, dois meses após alcançar o balanço de carbono neutro em sua unidade de Timóteo, em Minas Gerais. A compradora dos créditos de remoção de carbono foi a canadense Invert Inc., especializada na remoção e compensação de emissões de gás de efeito estufa.

A projeção do mercado é de que esse novo segmento do mercado de créditos de carbono movimente US$ 2 bilhões neste ano, devendo chegar em US$ 7 bilhões em seis anos. O valor da transação da Aperam, a primeira do tipo no Brasil, somou R$ 610 mil (US$ 112 mil), mas o potencial é de que o novo braço de negócio possa chegar a uma receita extra de R$ 40 milhões anuais à siderúrgica.

Florestas renováveis de eucalipto da Aperam  Foto: Daniel Mansur

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“Estamos há dez anos falando de migrar alto-forno de carvão mineral para o vegetal. Obter a neutralidade de carbono e concretizar essa venda faz parte de um único projeto”, explica o presidente da Aperam South America e da BioEnergia, Frederico Ayres Lima.

No mundo, a forma mais comum para a produção do aço é por meio do alto-forno utilizando o coque, que é o carvão mineral, processo muito poluente. Outra forma é por meio da sucata em fornos elétricos, mais utilizada em países desenvolvidos pela maior disponibilidade da matéria-prima. A terceira é com o uso do carvão vegetal, que acaba se restringindo a operações de menor escala, como a da Aperam no Brasil, especializada em aços especiais e que produz 900 mil toneladas de aço bruto por ano.

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“Esse é um resultado de algo vem sendo feito há anos. Estamos trabalhando na redução das emissões, mas isso não será suficiente para segurar o aquecimento global em 1,5 grau Celsius (previsto no Acordo de Paris)”, afirma o executivo da siderúrgica.

Matriz energética mais ‘favorável’

Lima afirma que as características do Brasil possibilitam a manutenção de florestas de eucalipto eficientes, o que permite a produção de carvão vegetal. “Acredito que o Brasil pode ter um protagonismo nessa agenda de redução do aquecimento global. Temos uma série de vantagens. O carvão vegetal só tem no Brasil, é um ativo nosso. Temos uma matriz energética mais favorável”, afirma Lima.

Com seis unidades no mundo, o executivo admite que a neutralidade da emissão de carbono ainda não é uma realidade do grupo como um todo. Mas a unidade brasileira poderá ajudar nesse processo. Dadas as discussões em todo o mundo em torno das preocupações relativas ao aquecimento global, espera-se que, em breve, o “aço verde” seja um diferencial competitivo no mercado.

Remoção de carbono x crédito de carbono

O mercado de crédito de carbono mais tradicional se refere à redução de emissões e funciona como um sistema de compensações, na qual uma empresa que não atingiu suas metas compra o crédito de quem reduziu a mais suas emissões. O segundo nicho, como o do contrato fechado pela Aperam, se refere à remoção de carbono da atmosfera.

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A Aperam comprovou uma remoção de 1.122 toneladas de gás carbono com a aplicação de uma biomassa, conhecida como biochar, no solo das florestas da Aperam BioEnergia. A perspectiva é chegar, num futuro próximo, a 40 mil toneladas de biochar por ano, o que representaria um potencial valor entre R$ 38 milhões a R$ 40 milhões.

A Bioenergia, unidade onde está a floresta de eucaliptos da Aperam, está localizada no Vale do Jequitinhonha (MG). Ela foi a primeira do setor siderúrgico a obter neutralidade de carbono. O cultivo de florestas renováveis e produção de carvão vegetal tem como objetivo final a produção do aço verde da Aperam, na usina de Timóteo (MG). “A biochar mostra vantagens em relação à retenção de água e nutrientes no solo”, diz o presidente da Aperam no Brasil.

Por ora, sem obrigações

Coordenador do programa de Política e Economia Ambiental do centro de estudos em sustentabilidade da FGV, Guarany Osório explica que no Brasil o mercado de carbono ainda não é regulado. No entanto, o desenvolvimento desse mercado já começou, de forma voluntária, por razões de reputação corporativa. “Como esse mercado no Brasil ele não é regulado, ninguém é obrigado a cumprir”, diz o professor.

Osório afirma que, nos países onde há regulação, é estabelecido um teto para as emissões de carbono e liberada a compra por quem supera esse limite de créditos por aqueles que conseguiram cumprir a meta. Para ele, esse mercado irá de fato evoluir no Brasil quando essas regras estiverem escritas na Legislação.

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