RIO - Ex-conselheiro da Petrobrás e diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar afirmou ao Estadão/Broadcast que os sindicatos farão neste ano quantas greves forem necessárias para barrar a venda de ativos da petroleira estatal. O primeiro indicativo de paralisação é para fevereiro, por conta do fechamento da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR), anunciado neste mês. Em seguida, vão concentrar esforços na oposição à venda de oito refinarias, inclusive na Justiça. A Petrobrás ainda planeja se desfazer de um grupo de concessões marítimas e terrestres, ativos no Uruguai e Argentina, subsidiárias de biocombustíveis, térmicas e uma fatia remanescente na rede de gasoduto TAG. Segundo Bacellar, não falta apoio contra as privatizações por parte dos empregados, que, após a reforma trabalhista, passaram a financiar ainda mais os sindicatos. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
No fim do ano os petroleiros entraram em greve e foram obrigados a suspendê-la por determinação do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Passados dois meses, há espaço para nova greve?
Tem espaço sim, porque estamos falando do descumprimento do acordo coletivo de trabalho, a começar por esse processo arbitrário de demissão de cerca de mil pessoas na Fafen-PR. Entendemos que o TST vai ratificar esse exercício de greve, que precisa ser respeitado.
Há espaço para quantas greves em 2020?
É uma incógnita. A gente não sabe o que pode acontecer. Até março o primeiro pacote de venda de quatro refinarias deve entrar numa fase avançada de negociação. É óbvio que a categoria petroleira não vai assistir isso pacificamente, sem fazer nada. Estamos dispostos a reconquistar a confiança das pessoas a ponto de ter uma greve que mude os rumos da Petrobrás.
No governo Temer, os sindicatos recorreram à Justiça para barrar a venda de ativos. Com Bolsonaro na presidência, passou a priorizar greves. A FUP retornará a Justiça?
Não apenas nós. A prefeitura de Araucária tem questionado na Justiça algumas situações. Eles recorreram até a CVM (Comissão de Valores Mobiliários). A FUP, o Sindiquímica Paraná e o Sindipetro do Paraná e Santa Catarina também vão à Justiça. Mas essa não é a única via. Vamos recorrer a articulações no Executivo e no Legislativo.
Os sindicatos dos petroleiros perderam credibilidade com a Operação Lava Jato...
A gente já vê uma mudanças na categoria, que não está tão influenciada pela onda antiesquerda daquele período. Tanto que a gente tem a expectativa de ganhar a próxima eleição por um assento no conselho de administração da Petrobrás.
Os empregados da Petrobrás apoiam o movimento sindical como antes da Lava Jato?
As assembleias (de aprovação de greve) têm demonstrado isso. Até mesmo o corpo gerencial da empresa, que jogava contra a gente no período de 2015 e 2016, hoje nos ajuda e muito. A categoria tem analisado de uma forma diferente e entende que precisa de algum tipo de proteção e reação para evitar a perda do emprego e a venda aos pedaços dessa empresa gigantesca.
Uma crítica recorrente, dentro e fora da Petrobras, é que a FUP atua mais para o PT do que para os trabalhadores. Há interesse eleitoral nas mobilizações da federação?
Fizemos mobilizações no governo PT. Em 2015, no governo Dilma (Rousseff, ex-presidente), fizemos a maior greve desde a paralisação histórica de 1995. Não é verdade que estamos preocupados com as eleições. A verdade é que a FUP e seus sindicatos trabalham para defender os interesses da categoria petroleira.
O movimento sindical enfraqueceu com a reforma trabalhista?
No nosso caso, não. Vou dar um exemplo de números que eu conheço, do Sindipetro Bahia, onde sou dirigente. A gente teve um aumento de arrecadação com o fim do imposto sindical. Porque, com essa conjuntura, as pessoas se filiaram. Foi um movimento inverso. Nacionalmente, há um sangramento de recursos no movimento sindical como um todo. Mas, entre os petroleiros, ou recompusemos o que se perdeu com o fim do imposto sindical ou tivemos um valor ainda maior, como foi o caso do Sindipetro Bahia.
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