BRASÍLIA – As negociações em torno do Banco Master podem envolver tanto empréstimos quanto aportes do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Isso pode ocorrer para os ativos que não serão incorporados pelo Banco de Brasília (BRB), banco estatal do Distrito Federal que fez uma proposta para comprar um pedaço do Master.
O FGC, instituição privada mantida pelos bancos que protege os clientes em caso de quebra das instituições financeiras, seguindo determinados parâmetros, não deve participar, contudo, do desenho da proposta. Em casos desse tipo, ele apenas reage a pedidos de suporte feitos pelos bancos e faz a análise sobre o que considera melhor para o sistema financeiro.
O Master, controlado pelo empresário Daniel Vorcaro, está sob os holofotes do mercado e de autoridades em Brasília após ter recebido, no final de março, uma oferta de compra de 58% de seu capital total pelo BRB. A operação ainda precisa ser aprovada pelo Banco Central (BC) e pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Procurado, o Master não se manifestou. Já o FGC e o Banco Central afirmaram que não vão comentar.

Mesmo se a compra pelo BRB for aprovada, um pedaço do Master seria “deixado para trás”, com ativos considerados mais arriscados, como precatórios (dívidas judiciais do governo), participações em empresas e direitos creditórios (uma espécie de “pré-precatório”). É o desenho sobre o que será feito com esse pedaço, chamado por interlocutores de “banco ruim”, que está sob intensa negociação entre os principais bancos do País.
Pessoas a par das conversas dizem que todos os caminhos estão em aberto, mas a tendência é que ocorra uma liquidação privada — ou seja, que o Master negocie diretamente com outros bancos para vender esses ativos.
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Em eventos desse tipo, o FGC tende a apoiar soluções que minimizem riscos para o sistema, mas sem participar do desenho da proposta. No caso do Master, bancos e fundos privados podem elaborar uma proposta para compra e encaminhar um pedido formal de suporte ao FGC. O próximo passo seria o fundo discutir internamente o modelo, tendo como objetivo a segurança do sistema financeiro.
Em 2015, o FGC concedeu uma linha de crédito de R$ 7 bilhões para o banco BTG, a pedido do próprio banco, após a prisão do banqueiro André Esteves, no âmbito da Operação Lava Jato, por receio de uma corrida bancária. O dinheiro ajudou a conter a crise e a manter o banco em funcionamento. Esteves, posteriormente, foi absolvido das acusações e voltou ao banco.
BC espera solução da ‘Faria Lima’
Segundo relatos de pessoas próximas das negociações, o Banco Central tem evitado participar do desenho sobre operação do Master. No encontro com banqueiros, na última semana em São Paulo, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, teria reafirmado o caráter técnico da análise da proposta do BRB, mas, ao mesmo tempo, exigido soluções por parte da “Faria Lima” para o pedaço do banco deixado para trás.
O presidente e sócio do BTG, André Esteves, tem dito nos bastidores que não tem interesse nos ativos do Master, nem mesmo os precatórios do banco, segmento no qual o BTG também tem forte atuação. Procurado sobre o assunto, o BTG reforçou o fato relevante divulgado ao mercado, negando que tenha feito proposta por ativos do Master.
Quem acompanha o caso, no entanto, entende esse movimento como uma estratégia de negociação, e que tudo depende do valor desses ativos. Como empresário e banqueiro, ele pode mudar de ideia, “caso as circunstâncias mudem”, segundo uma pessoa próxima do assunto.
Por se tratar de um problema em uma instituição financeira, a expectativa dos envolvidos é a de que a solução seja questão “de dias”, e não de semana ou de meses.