Soft skills e formação humanística são essenciais na era da IA

Estudos indicam as habilidades interpessoais e pensamento crítico como determinantes para o sucesso profissional

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06/03/2025 | 18h18
Bootcamp Belavista foi organizado com o objetivo de preparar os estudantes para a transição entre o ensino médio e a vida acadêmica. Foto: Faculdade Belavista

O avanço da inteligência artificial (IA) transforma o mercado de trabalho e impõe um novo paradigma para os profissionais do futuro. No entanto, a capacidade das máquinas de realizar análises complexas e automatizar tarefas traz, a cada um, o desafio de encontrar as habilidades exclusivamente humanas que permanecerão indispensáveis.

Segundo um estudo da McKinsey & Company, até 2030 a demanda por competências como pensamento crítico, resolução de problemas complexos e inteligência emocional crescerá 26%. Um levantamento da PwC confirma essa tendência e pontua que, além das habilidades técnicas, profissionais precisarão dominar habilidades interpessoais para se destacar. Além disso, a capacidade de liderar, negociar e tomar decisões embasadas em princípios éticos será determinante para o sucesso profissional.

No centro dessa transformação, instituições acadêmicas e especialistas apontam um caminho: fortalecer a formação humanística e as chamadas soft skills — habilidades comportamentais, emocionais e sociais que são desenvolvidas ao longo da vida. Dessa forma, os profissionais do futuro dominarão as ferramentas tecnológicas, assim como saberão usá-las com discernimento e responsabilidade.

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Juan Cianciardo, professor catedrático de Filosofia do Direito da Universidade de Navarra: “Jovens enfrentam dificuldades para lidar com fracassos e imprevistos e, muitas vezes, desistem rapidamente diante de obstáculos.” Foto: Faculdade Belavista

Os desafios da nova geração

O trajeto de mudança exige dedicação, pois, como alerta Juan Cianciardo, professor catedrático de Filosofia do Direito da Universidade de Navarra, a humanidade enfrenta dois pontos de atenção: fragilidade emocional e distração excessiva. “A nova geração cresceu em uma sociedade que prioriza a segurança e a proteção excessiva, o que a tornou menos resiliente. E mais: vivemos em um contexto de constantes distrações digitais que prejudica a capacidade de foco e aprendizado aprofundado”, observa.

Essa vulnerabilidade, acredita Cianciardo, se reflete no ambiente acadêmico e profissional. “Jovens enfrentam dificuldades para lidar com fracassos e imprevistos e, muitas vezes, desistem rapidamente diante de obstáculos”, diz. Segundo o professor, fortalecer as capacidades passa pelo resgate da interioridade, pela formação crítica proporcionada pela leitura e pelo debate filosófico.

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Nesse sentido, Eduardo Souza, professor-associado de Economia da Universidade de Toronto, reforça a importância de uma formação ampla e estruturada para lidar com os desafios contemporâneos. “A teoria econômica não é intuitiva. Muitas políticas falham por ignorância dos efeitos indiretos, e isso é algo que precisa ser compreendido”, diz. “A formação de virtudes, como a integridade pessoal, é essencial. Precisamos de profissionais que saibam olhar para os dados e tomar decisões com base neles, e não apenas em opiniões”, completa Souza.

As reflexões de Cianciardo e Souza foram compartilhadas com os novos alunos da Faculdade Belavista, em São Paulo, durante um evento de recepção, em fevereiro deste ano. O Bootcamp Belavista foi organizado com o objetivo de preparar os estudantes para a transição entre o ensino médio e a vida acadêmica. Durante uma semana, os recém-admitidos acompanharam palestras e refletiram em uma jornada de aprendizado e crescimento.

Na visão do professor Cesar Bullara, do ISE Business School, as competências relacionadas com emoções são diferenciais nos dias de hoje no mercado de trabalho Foto: Faculdade Belavista

A inteligência emocional como diferencial A preocupação com a formação integral dos alunos está presente em todo o período de estudo da instituição, que oferece cursos de Direito e Economia. A formação humanística integrada ao Core Curriculum, com disciplinas como Filosofia, Antropologia, Ética e Literatura, forma uma grade que auxilia no desenvolvimento da inteligência emocional.

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Na visão do professor Cesar Bullara, diretor do Departamento de Gestão de Pessoas e professor de Ética nos Negócios do Ise Business School, esse conjunto de competências relacionadas a lidar com emoções é justamente um dos principais diferenciais nos dias de hoje no mercado de trabalho. “Não se trata apenas de controlar emoções, mas de dar a proporção adequada conforme cada situação. A virtude, segundo Aristóteles, está no equilíbrio”, explica.

No ambiente corporativo, essa capacidade é essencial já que, em um mundo em que a IA pode executar tarefas técnicas com eficiência, são os aspectos humanos que diferenciam um profissional. “Uma IA pode processar informações rapidamente, mas apenas uma pessoa deve decidir como aplicá-las”, enfatiza.

O papel da formação humanística

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Renato Moraes, coordenador de Humanidades da Faculdade Belavista, entende que uma abordagem ampla de mundo prepara os alunos para as dificuldades que vão além da técnica. “Ao estudar grandes pensadores e debater dilemas morais, o estudante desenvolve senso crítico e aprende a enxergar o impacto das suas decisões”, aponta.

Eduardo Souza, professor-associado de Economia da Universidade de Toronto: “A teoria econômica não é intuitiva. Muitas políticas falham por ignorância dos efeitos indiretos, e isso é algo que precisa ser compreendido.” Foto: Faculdade Belavista

O conhecimento humanístico também ajuda a compreender questões éticas ligadas à tecnologia. Moraes destaca que a IA pode reproduzir vieses e tomar decisões com base em padrões algorítmicos que nem sempre consideram a justiça social, por exemplo. “A tecnologia não pensa, apenas processa. Para que possamos utilizá-la de forma benéfica, os profissionais precisam de formação humanística sólida e devem aprender a questionar criticamente esses padrões”, ressalta.

Como sintetiza o professor Bullara: “Precisamos formar pessoas e não robôs. A formação humanística vai fazer o profissional do futuro compreender sua responsabilidade e seu papel na construção de uma sociedade mais justa e consciente”.

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