No último dia 25 de junho, foi divulgado o quinto ranking GPTW Mulher, organizado pela Great Place to Work, empresa de consultoria que analisa o ambiente de trabalho de empresas. O top três foi formado por Johnson & Johnson, Dell Technologies e Mercado Livre, sendo esta em primeiro lugar.
O ranking é feito com companhias de, no mínimo, 100 funcionários. Elas também precisam ser uma Empresa Certificada GPTW e preencher o questionário referente à inclusão de mulheres no mundo corporativo. Essa edição do ranking Mulher contou com 641 empresas inscritas, representando 741.665 funcionários - 70 empresas foram premiadas, sendo 35 de porte grande e 35 de porte médio.
Mas o que as empresas fizeram para ficar em posições tão altas? Qual é a cultura da organização para as mulheres: existe igualdade salarial, programa para reportar abusos? O Estadão foi atrás das companhias para entender quais são os pilares para a equidade de gênero e servir de exemplo para o mercado de trabalho.
Betina Lackner, head de RH da Johnson & Johnson, ressalta a participação na iniciativa global Women's Leadership & Inclusion (WLI), que provocou diversas mudanças, além de ser o agente-chave a impulsionar a criação de outros grupos que vêm trabalhando para que a companhia seja cada vez mais diversa e inclusiva.
O grupo foi criado há 25 anos e hoje tem três pilares: avanço, para o desenvolvimento e o empoderamento de mulheres e de suas carreiras; inclusão, focado no enfrentamento de preconceitos; e comunidade, que busca o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
“Nós, como setor privado, enxergamos a grande responsabilidade de contribuir nesta temática, impulsionando esta transformação. E entendemos também que se trata de uma jornada longa e contínua, para mitigar mecanismos estruturais de privilégios”, comenta Betina.
Já a Dell Technologies assinou em 2017 a Carta de Princípios de Empoderamento das Mulheres, promovida pela ONU Mulheres e pelo Pacto Global das Nações Unidas. Além disso, o CEO da empresa, Michael Dell, estabeleceu metas globais de, até 2030, ter 50% da força de trabalho da companhia formada por mulheres e 40% das posições de liderança ocupadas por elas.
Dados analisados desde o processo seletivo
Um dos itens ressaltados por Fernanda Kessler, diretora de recursos humanos da empresa, são os processos seletivos. Existe uma equipe de diversidade para os recrutamentos e a política na qual deve haver ao menos uma recrutadora e uma candidata mulher.
Também é feita uma análise constante para identificar quantas profissionais se candidatam às vagas e quantas são efetivamente contratadas, com o objetivo de garantir que as estratégias de atração de mulheres sejam efetivamente executadas. “Em 2020, fizemos uma campanha na qual o time de aquisição de talentos da Dell Technologies tinha metas diárias para buscar talentos femininos e, em apenas seis meses, mapeamos mais de 500 candidatas potenciais em todo o Brasil.”
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Já o Mercado Livre, que lidera o ranking, divulga que elas representam 45% dos mais de 7 mil funcionários da empresa no Brasil. Atualmente, a companhia conta com 40% das posições de liderança, a partir de gerência, assumidas por mulheres. Já em posições de alta liderança, a partir da direção, 37% das posições são ocupadas por mulheres – um ano antes, esse número era 32%.
Com estas marcas, Esabela Cruz, gerente de Diversidade & Inclusão, garante que a meta da empresa é a de ser a mais diversa da América Latina. Existe o Manifesto da Diversidade e Inclusão, que também guia as ações do Mercado Livre.
“Para garantir essas metas, temos políticas claras de apoio a elas. Duas das quais valorizo são a nossa política de retorno da licença maternidade, em que a funcionária volta com horário reduzido e ajustes de acomodações e jornada para que ela tenha uma volta tranquila. E também existe o protocolo de combate a violência doméstica, que aumentou muito em decorrência da pandemia.Fizemos uma série de treinamentos para disseminar esse alerta e criamos um canal de denúncia e suporte”, explica Esabela.
As três empresas praticam a equidade salarial e contam com programas de denúncias de abusos – tanto físico quanto psicológico, com canais anônimos para a segurança das vítimas. Nesses casos, são conduzidas investigações internas que, se confirmarem, punem com a gravidade do caso, implicando até na demissão.
Mas para quais mulheres?
Com o avanço das discussões, outro ponto fundamental a ser analisado é a participação e a inclusão de mulheres pretas e mulheres transgêneras. Dell e Johnson & Johnson não divulgam os números por políticas globais. Já o Mercado Livre afirma ter em seu quadro 1.185 mulheres negras e três autodeclaradas transgêneras, dentre seus mais de 7 mil profissionais no Brasil.
Nesse ponto, Betina Lackner destaca o Projeto Dandara, que visa a ambientação e a contratação de profissionais transgêneros na Johnson & Johnson. Apesar de ser um piloto começando com a posição de Beauty Advisor Nacional, a empresa olha para oportunidades em demais cargos. Além disso, existem grupos para discussão de novas políticas, o Open & Out, voltado para causas LGBT+ e o Soul Afro, que busca equidade étnico-racial dentro da companhia.
A Dell Technologies mantém uma parceria com a Transempregos, com o objetivo de atrair mulheres trans para a companhia no País. Lá também existem grupos de inclusão. Nesse sentido, Black Network Alliance, que visa a igualdade de oportunidades profissionais independentemente de cor de pele, e o Pride, que incentiva o ambiente de tolerância e respeito a diversidade de orientação sexual.
O Mercado Livre tem programas para levar as mulheres pretas a mais cargos, principalmente na área de logística, onde o ambiente é predominantemente masculino. Além disso, Esabela ressalta que a empresa está se movimentando para a receptividade de mulheres trans. “No primeiro momento comemoramos demais, mas logo depois nos questionamos: o Mercado Livre é a melhor empresa para quais mulheres?”.
Hoje, a companhia trabalha em projetos específicos para atrair essa parte da população, com mudanças em processos de seleção, admissão e no desenvolvimento da organização. Pensando também nos usuários, o Mercado Livre também passou a aceitar o nome social, impulsionada pela demanda da comunidade transgênera.
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