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O que fazer (e o que não fazer) para mostrar sua rotina de trabalho no TikTok

Enquanto profissionais de áreas distintas viralizam na internet por meio de conteúdos relacionados ao trabalho, especialistas tentam compreender o novo fenômeno para orientar trabalhadores

Foto do author Jayanne Rodrigues
Por Jayanne Rodrigues
Atualização:

O que uma psicóloga e uma analista de comunicação têm em comum? Ambas usam o TikTok para divulgar a rotina de trabalho e dar dicas da profissão que exercem por meio de vídeos interativos. Elas acompanham a tendência de transformar o cotidiano em conteúdos de entretenimento. Segundo especialistas, o engajamento nas redes sociais pode ampliar o acesso a oportunidades e aproximar recrutadores de empresas, principalmente de áreas artísticas. Mas é preciso estar atento à forma e ao conteúdo compartilhado.

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Entender o que pode e o que não pode nas redes sociais é mais difícil do que parece. De acordo com a psicóloga Rafaela Abreu, coach de carreira e headhunter, a escolha do que é publicável depende de três fatores: o propósito da pessoa, a área em que atua e qual perfil de empresa deseja atrair (para quem está em busca de emprego). “Quando têm muitos assuntos destoantes, a empresa pode olhar e não gostar do vídeo”, alerta.

Aqueles que divulgam a rotina de trabalho nas redes devem ter cautela ao utilizar o nome da empresa. “Porque vai representar a instituição” diz Rafaela. Em alguns casos, o funcionário pode ser responsabilizado profissionalmente. “Por exemplo, se falar algo ofensivo, a empresa pode justificar demissão por causa da conduta do colaborador”, afirma ela. Para evitar advertências e até afastamento, o ideal é verificar com o jurídico da empresa.

Foi esse estalo que a analista de comunicação Julia Rantechieri teve quando decidiu abrir uma conta no Tik Tok em abril deste ano. “Perguntei se a empresa tinha interesse em fazer vídeos (sobre rotina de trabalho). E aí, eles disseram que não tinham nenhum planejamento, mas que era uma ideia legal. Então, acabei fazendo por mim”, conta ela, cujo vídeo foi assistido por mais de 200 mil pessoas.

O conteúdo começa com a seguinte mensagem “hoje vou levar vocês para trabalhar comigo”, segue com a narração da jovem a caminho do trabalho, no carro, em espaços de convivência e recortes do cotidiano na empresa em que a analista trabalha.

“A pandemia trouxe interesse por coisas normais. Hoje, pegar um ônibus é um entretenimento para as pessoas que estão há quase três anos dentro de casa”, resume Julia, que planejou produzir algo espontâneo para gerar identificação dos usuários do TikTok. “Pensei: ‘E a primeira vez que entrei no escritório, o que mais me impressionou?’”, relembra.

Na hora de colocar o conteúdo no ar, a prioridade da profissional foi descobrir como poderia envolver o público. “Eu tive mais o cuidado do que vai chamar atenção”, diz. A maioria dos comentários do post da analista são de pessoas solicitando dicas para melhorar o currículo e outras interessadas em ingressar na startup. “Sonho! Que tipos de cursos preciso fazer para poder trabalhar nessa empresa?”, escreveu um internauta.

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O TikTok já acumula mais de 11 milhões de visualizações na #trabalhecomigo, hashtag em que Julia aparece entre as mais assistidas nos resultados de pesquisa. Disputar alguns segundos com milhares de publicações é um desafio. “Por isso, passar algo natural na mensagem é importantíssimo”, avalia a psicóloga Rafaela Abreu.

A analista de comunicação Julia Rantechieri transformou a rotina de trabalho em conteúdos de entretenimento. Foto: Werther Santana/Estadão 

Embora o TikTok tenha sido o aplicativo mais baixado do mundo no 1º trimestre de 2022, conforme dados da Sensor Tower, lideranças e empresas ainda não estão alinhadas com os recursos da plataforma. “As corporações estão um pouco devagar, tentando entender, porque é algo relativamente novo”, considera Rafaela Abreu. Por outro lado, o engajamento nas redes pode ser um diferencial para alguns profissionais. “Setores artísticos, criativos e de marketing são bem vistos nesses espaços”.

Algumas áreas, por sua vez, têm Código de Conduta e Ética com tópicos que orientam o profissional na divulgação do trabalho nas redes sociais, a exemplo do Direito. “Mas nem tudo dá para ser replicado. A gente tenta trabalhar algo adaptado para a realidade do profissional. Isso vale para o advogado, dentista e outros”, comenta Beatriz Xavier, cofundadora e redatora da ConnectLaw, empresa especializada em marketing jurídico.

A área de psicologia, por exemplo, tem o Código de Ética do Profissional Psicólogo, o CRP, que orienta, a não anunciar preços de consultas. “Bom senso nessas horas é um excelente norte”, diz a psicóloga Gabriela Fonseca, 27, que tem 160 mil seguidores na rede. Ela tenta unir dramaturgia e humor para criar conteúdos informativos sobre psicoterapia em seus vídeos.

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Em 2017, ela começou a publicar no TikTok por hobby, mas na medida que o alcance aumentou, percebeu que a plataforma poderia ser usada como instrumento de projeção e meio para “democratizar a profissão”.

“Antes não havia muito planejamento. Produzia o que fazia sentido para mim”, diz. Após cinco anos de atuação na plataforma, ela admite que não é fácil fazer escolhas totalmente certas nas produções dos vídeos. “Às vezes, confundo os termos. Por isso, sempre estou me atualizando, mas podem acontecer equívocos”.

No trabalho de filtrar informações, Gabriela conta que até um grupo no WhatsApp, formado por psicólogos, vira mecanismo de ajuda para tirar dúvidas. Ela acrescenta que, antes de publicar qualquer conteúdo, alguns questionamentos são feitos, como: se o material compartilhado pode assustar alguém, o que está sendo promovido a partir daquele vídeo e o que pode ser atraído após a divulgação.

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A profissional também evita generalizar transtornos mentais no momento da produção de conteúdos por conta do risco de induzir usuários da plataforma a realizarem autodiagnóstico sem acompanhamento médico.

Bom senso é o caminho, confira algumas dicas:

1. Evite abordar temas que podem gerar gatilhos, como suicídio e outros transtornos mentais;

2. Verifique as informações compartilhadas antes da publicação para não disseminar desinformação;

3. Não divulgue imagem sem autorização;

4. Antes de gravar imagens no ambiente de trabalho, converse com o gestor responsável;

5. Utilizou algum conteúdo como referência para a produção do material? Cite a fonte no vídeo, na legenda ou nos comentários;

6. Atenção ao criticar outra pessoa nas redes sociais. Ofender, acusar ou citar um indivíduo publicamente, atribuindo a ele um fato específico, pode configurar o crime de difamação.

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