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Retrospectiva: o ano de 2020 no mundo da carreira e do trabalho

Ano da pandemia é marcado por excesso de videoconferência no home office e atenção especial à saúde mental; demissão humanizada e benefícios flexíveis ganham destaque

Por Letícia Ginak, Anna Barbosa e Marina Dayrell

2020 foi um ano difícil de caber em uma retrospectiva. Não bastasse todas as coisas que podem acontecer todos os anos entre janeiro e dezembro, a pandemia do coronavírus revirou quase tudo que conhecíamos como normal.

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No universo do mercado de trabalho não foi diferente. Em março, milhões de brasileiros foram colocados às pressas no home office, e outros milhões precisaram aprender a estar fora de casa enquanto uma pandemia deixava mais de 1,6 milhão de mortos no mundo. Muitos outros tiveram os salários reduzidos ou perderam seus empregos. 

Com o passar dos meses, e percebendo que a realidade pré-pandemia não retornaria tão cedo, o mundo das carreiras precisou se adaptar. Sem os escritórios físicos, as videoconferências tomaram conta das rotinas, a saúde mental foi colocada ainda mais em evidência, o recrutamento passou a ser digital e questões relativas a diversidade e inclusão vieram à tona.

Confira o que foi destaque no mundo do trabalho em 2020, segundo os especialistas entrevistados ao longo do ano pelo Sua Carreira.

Saúde mental em foco

O isolamento social e as mudanças no estilo de vida colocaram problemas como ansiedade e síndrome de burnout em evidência. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Isma-BR (International Stress Management Association), 72% dos brasileiros que estão no mercado sofrem alguma sequela ocasionada pelo estresse. Desse total, 32% sofrem de burnout.

“Foi preciso trazer para a superfície a necessidade da saúde mental, que antes ficava na parte debaixo do iceberg. A empresa tem a necessidade de cuidar e trazer um espaço seguro para o cuidado do funcionário com a saúde mental”, aponta Débora Brewer, vice-presidente para a América Latina e Caribe da Degreed, plataforma de aprimoramento e requalificação. 

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Carine Roos, especialista em liderança feminina e cofundadora da Escola Elas, concorda que é necessário a criação de ambientes seguros para os colaboradores se expressarem. “A empresa que não for eticamente responsável com as pessoas será mais prejudicada.” 

O ano da diversidade e da inclusão

Se em 2019 o tema da diversidade foi colocado em pauta, em 2020 o universo corporativo se movimentou ainda mais em torno do tema, analisa Bielo Pereira, palestrante e consultora em diversidade e inclusão corporativa.

“Fazendo um recorte mais fechado e mais pontual, veio à tona a questão da diversidade racial: momentos muito tristes que aconteceram na nossa sociedade e trouxeram luz para que pessoas pretas tivessem seus talentos reconhecidos.”

Carine Roos, especialista em liderança feminina e cofundadora da Escola Elas. Foto: Divulgação

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Ela aponta que, a partir disso, foi possível fazer com que as pessoas passassem a ver mais as questões da interseccionalidade, como gênero, raça, classe e inclusão de pessoas com deficiência. Empresas como Magazine Luiza e Bayer criaram programas de trainee exclusivos para profissionais negros. Nos estágios, Ambev, EDP e Eaton direcionaram os processos seletivos para a inclusão de pessoas negras. Outros grupos minorizados, como mulheres, a comunidade LGBTQIA+ e pessoas com deficiência foram alvo de programas de empresas como a Kraft Heiz. 

Na questão de gênero, Carine Roos ressalta que a situação das mulheres ficou mais vulnerável na pandemia, seja por terem de lidar com os filhos e os cuidados da casa ou até por serem as mais demitidas no mercado.

Para ela, as mulheres ainda são as mais punidas porque existe preconceito de gênero muito claro. “Ao mesmo tempo, as empresas que se posicionam desta maneira ficam para trás”, acredita.

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Demissão humanizada

Um dos grandes acontecimentos do mercado de trabalho em 2020 foi a onda de demissões logo nos primeiros meses da pandemia, o que levou funcionários a criar movimentos de indicações dos colegas demitidos nas redes sociais, muitos incentivados pelas próprias empresas.

Diretor geral do LinkedIn para América Latina, Milton Beck conta que antes da pandemia a plataforma tinha em torno de 200 mil vagas publicadas. No decorrer da crise, houve uma queda na oferta de 30% a 35%. “Hoje, há um aumento do número de vagas a níveis próximos de antes da pandemia, que é insuficiente para cobrir o gap de desemprego.”

Em agosto, a taxa de desemprego chegou a 14,4% - 13,8 milhões de brasileiros -, o maior nível já registrado pela Pnad Contínua, do IBGE

O diretor-geral do LinkedIn para a América Latina, Milton Beck. Foto: Vivian Koblnsky

Para minimizar danos aos ex-funcionários e à própria reputação da empresa, algumas organizações fizeram o que ficou conhecido como demissão humanizada. Foram ofertados aos demitidos itens como a garantia do plano de saúde e vale-alimentação por alguns meses após a demissão, apoio financeiro, doação de equipamentos como computadores e celulares corporativos e parcerias com empresas que estavam contratando.

Recrutamento digital

Se antes o RH funcionava como coadjuvante, neste ano a área passou a ser a grande protagonista, sendo um dos departamentos mais acionados pelos colaboradores. Desde as estratégias para a adaptação dos funcionários em home office até as novas formas de contratação, o setor passou por profundas mudanças.

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Depois da onda de demissões, setores como o de tecnologia passaram a ofertar vagas de trabalho. Para isso, o recrutamento digital ganhou força com o uso de diferentes tecnologias, que vão desde games até chatbots. Além do processo de seleção, também foi preciso aprender a integrar os novos funcionários de forma online, com happy hour virtual, atividades laborais e dinâmicas de grupo por aplicativos de videoconferência. 

A nova carteira de benefícios corporativos

Com o home office, as empresas precisaram mudar suas políticas de benefícios. Quem passou a trabalhar de casa - segundo a Pnad Contínua, cerca de 8,7 milhões de brasileiros, em agosto - parou de usar o vale-transporte e viu as despesas com internet, energia elétrica e material de escritório aumentarem.

De olho nessas mudanças, muitas empresas passaram a adotar os benefícios flexíveis - modalidade que permite que o funcionário escolha como gastar os valores. Outras substituíram o vale-transporte por vale internet, conta de luz e auxílio home-office (para a compra de materiais necessários ao trabalho, como cadeiras ergonômicas, fones de ouvido, teclado e outros). 

Habilidades comportamentais: as soft skills

As famosas soft skills não surgiram em 2020, mas se tornaram prioridade no mercado neste ano. Os efeitos da pandemia fizeram com que elas fossem ainda mais relevantes na seleção e na manutenção das vagas de emprego.

“As hard e soft skills sempre foram úteis, mas, em um momento em que as pessoas têm mais problemas de comunicação, algumas dessas habilidades se tornam ainda mais imprescindíveis”, pontua o diretor geral do LinkedIn para América Latina, Milton Beck.

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Uma pesquisa realizada pela startup de recursos humanos Revelo, com sua base de 16 mil clientes, listou as cinco habilidades comportamentais mais procuradas pelas empresas: comunicação assertiva, empatia e capacidade de dar feedback, autogerenciamento, resolução de problemas e relação interpessoal. 

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