O superávit de US$ 40,039 bilhões na balança comercial de 2007, anunciado ontem pelo governo, interrompeu a trajetória de aumento anual dos últimos dez anos. Com queda de 13,8% em relação aos US$ 46,456 bilhões de 2006, o resultado significou também um recuo em relação a 2004, quando chegou a US$ 44,702 bilhões. A reversão deveu-se ao crescimento das importações, o dobro do registrado nas exportações. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior prevê que em 2008 as exportações deverão atingir US$ 172 bilhões, um crescimento de 7,09% em relação a 2007. Se as importações mantiveram o ritmo, o saldo terá um novo recuo. A previsão do Banco Central é que caia para US$ 30 bilhões. A queda no saldo, entretanto, deu-se em paralelo à expansão do total das vendas de bens do Brasil no exterior. A corrente de comércio (soma das operações de importação e exportação) alcançou o valor recorde de US$ 281,259 bilhões, 22,7% maior que a de 2006. Divulgados ontem, os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que as exportações somaram US$ 160,649 bilhões, uma marca histórica, 16,6% maior que em 2006, com recorde em 70% da pauta. Esse desempenho deveu-se mais aos produtos básicos, favorecidos pela elevação de preços internacionais, do que aos industrializados, suscetíveis à variação do câmbio. No ano, os embarques de básicos cresceram 27,6% e os de bens industrializados, 11,4%. As importações também bateram recorde ao atingir US$ 120,610 bilhões em 2007, com expansão de 32%. Quase metade do total, 49,3%, foi de compras de insumos pelo setor produtivo e uma parcela de 20,8%, de bens de capital. Embora com uma fatia menor (13,3% do total), os bens de consumo foram os itens que cresceram mais entre os importados - 33,2%, em resposta ao aquecimento econômico do País e ao câmbio valorizado. A importação de automóveis aumentou 62,4% em relação a 2006. O anúncio da auto-suficiência do Brasil em petróleo não interferiu na lógica de compra do insumo e de seus derivados pela Petrobrás. Responsável por 16,6% da pauta de importação do País, o item combustíveis e lubrificantes teve aumento de 31,6% no período. O secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, atenuou a importância da redução do superávit comercial, que já era esperada. "O saldo de 2007 é historicamente importante e ainda muito alto em comparação com as exportações", afirmou, observando que o superávit de US$ 40 bilhões correspondeu a 25% do valor total dos embarques do ano. Entre economias em desenvolvimento não exportadoras de petróleo, sustentou Barral, apenas a Argentina apresenta um cenário tão favorável, com saldo equivalente a 26% de seus embarques. "O resultado foi excepcional e mostrou que a competitividade foi mais importante que a valorização do câmbio", completou. Para Barral, os dados de 2007 confirmam a ampla margem para o crescimento do comércio do Brasil com o exterior em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Embora tenham puxado para baixo o saldo de 2007, as importações foram equivalentes a apenas 10% do PIB e as exportações, a 13%. A corrente de comércio significou 21,5%. Conforme insistiu, a chave para o aumento da exposição do Brasil ao comércio mundial estará na elevação da competitividade do setor produtivo, que será alvo da nova política industrial. Nas contas do ministério, as importações de bens de capital terão "viés de baixa" em 2008, com a conclusão do processo de renovação do parque produtivo nacional.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.