BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está fazendo as primeiras discussões sobre a taxação do aço exportado para os Estados Unidos com um núcleo reduzido do governo. Nesse primeiro momento, mesmo ministros frequentemente ouvidos pelo presidente, como Rui Costa (Casa Civil) e Mauro Vieira (Relações Exteriores), estariam tendo pouca participação.
Os principais conselheiros escolhidos por Lula para discutir o tema foram o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro da Indústria, Comércio e Serviços.
O presidente americano, Donald Trump, assinou na segunda-feira, 10, uma ordem executiva que taxa em 25% as importações de aço e alumínio. O protecionismo econômico foi uma de suas promessas de campanha.

Lula ainda não se pronunciou sobre a medida do presidente americano. O petista, porém, disse publicamente nos últimos dias que, por reciprocidade, poderia taxar produtos americanos caso tarifas fossem impostas a produtos brasileiros.
Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o governo avalia divulgar uma nota tratando do tema, porém ainda estuda o conteúdo da medida e os impactos que ela terá no comércio nacional. De acordo com interlocutores, a gestão federal não sabe se terá espaço para negociar tal decreto com o governo Trump e reuniões sobre o assunto serão feitas ao longo do dia.
Segundo pessoas a par do assunto, o foco do dia será analisar o conteúdo da medida e ver se há brechas para movimentos da gestão brasileira para negociar. As conversas devem ser feitas especialmente com a indústria e, algumas, envolvendo o Palácio Itamaraty. Uma oportunidade de diálogo para tratar sobre a medida com o governo Trump ainda não é dada como certa, na avaliação do governo Lula.
Desde o anúncio, as autoridades brasileiras têm feito declarações discretas sobre o tema, sinalizando a pretensão de tentar negociar com os americanos. Na segunda, Alckmin falou em disposição para colaborar.
Mais cedo, nesta terça-feira, 11, o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) disse que o Brasil não estimularia e nem entraria em uma guerra comercial. Segundo ele, guerras comerciais não fazem bem a ninguém. Também disse que o governo ainda não discutiu o que será feito a respeito da taxação pelos Estados Unidos e que defende o livre comércio.
A indústria siderúrgica brasileira já começou a se articular para buscar formas de enfrentar os efeitos das medidas na produção brasileira. Representantes do Instituto Aço Brasil foram na manhã desta terça-feira para Brasília, onde terão reuniões com técnicos da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e da Câmara de Comércio Exterior (Camex). Haverá ainda um encontro no Ministério de Relações Exteriores (MRE).
No ato assinado na segunda, Trump invalidou acordos construídos por ele mesmo no primeiro mandato à frente do governo americano, incluindo com o Brasil. Segundo um integrante do Executivo, a medida não foi surpreendente, devido ao que o republicano já vinha indicando.
Pelas regras em vigor, que não valerão mais a partir de 12 de março, o País pode exportar aço aos EUA no limite de 3,5 milhões de toneladas ao ano de aço semiacabado, e, para o produto acabado (aços longos, planos, inoxidáveis e tubos), de 543 mil toneladas. Com a nova decisão, o sistema de cotas deixará de funcionar. O modelo foi adotado em 2018, quando a diplomacia brasileira conseguiu um acordo com os norte-americanos e evitou a sobretaxa sobre o aço exportado em troca de um sistema de cotas para venda aos EUA. No caso do alumínio, foi mantida a taxação em 10% — que agora irá a 25% também.
A tarifa atinge os embarques de aço do País aos Estados Unidos principalmente pelo material semi-acabado (placas e tarugos), que representa quase 90% das exportações ao mercado americano. Esse item é adquirido por empresas locais que não fabricam placas para transformá-las em produtos acabados que atendem diversos setores industriais do país.