Técnicos especulam sobre impacto dos dissídios na inflação

A idéia é que nos setores que estão com margens de lucros apertadas, os empregadores deverão endurecer nas negociações, fazendo com que o reajuste final seja inferior à inflação dos últimos 12 meses

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Por Agencia Estado
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Este mês têm início os dissídios coletivos. A partir de abril, metalúrgicos, ferroviários, rodoviários, metroviários, portuários, petroleiros, empregados da construção civil, do comércio atacadista e varejista, entre outras categorias, começam a discutir as perdas de renda acumuladas até agora. A preocupação com o resultado das negociações entre patrões e empregados para recomposição de salários se justifica pelo impacto que esses reajustes podem ter na inflação. "Não sabemos como vão se dar essas negociações e qual será sua contribuição para trajetória do IPCA", afirma uma fonte graduada do Banco Central. "Por enquanto, a expectativa é de que o impacto inicial seja baixo já que os primeiros dissídios são de setores que estão com margens de lucro comprimidas", afirma. A idéia é que nos setores que estão com margens de lucros apertadas, os empregadores deverão endurecer nas negociações, fazendo com que o reajuste final seja inferior à inflação dos últimos 12 meses. "Mas isso varia muito de uma categoria para outra", completa a fonte do BC. A preocupação do governo com o impacto desses reajustes nos preços ficou clara na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária do BC (Copom). Para a economista Zeina Latif, do banco BBV, o medo não é que os reajustes levem a alta da inflação mas, sim, que eles impeçam uma trajetória de queda mais rápida como o governo deseja. "Apesar dos esforços do BC para reverter as expectativas do mercado, o consenso ainda é em torno de uma inflação de 12% para este ano", ressalta a economista. Esse valor é maior do que a meta ajustada de 8,5% fixada para o ano e está acima da projeção de 10,8% do último relatório de inflação do BC. "Quedas mais lentas da inflação podem interromper o processo de convergência dos índices às suas metas", destacam os técnicos do BC. Na última reunião o Copom optou por dar um indicativo de elevação dos juros, com a introdução de um viés de alta. Isso significa que o BC pode a qualquer momento aumentar as taxas, sem ter de esperar a próxima reunião do colegiado. O raciocínio de que setores que estão tendo resultados menores tendem a dificultar recomposição de perdas salariais pode valer, por exemplo, para a indústria mecânica e de material elétrico, que tem data-base em abril. Mas o mesmo não se aplica aos metalúrgicos, que estarão negociando na mesma época. "Esse é um setor que está exportando e registrando ganhos significativos. A pressão dos trabalhadores para ter a reposição integral da inflação deverá ser maior", diz a economista Sandra Utsumi, do BES Investimento. Em maio será a vez da construção civil, dos distribuidores do serviço de água e esgoto, dos ferroviários, rodoviários e metroviários. Enquanto a construção civil deverá ter reposições menores porque é um setor que normalmente já sofre com o aumento do salário mínimo, os três últimos são, tradicionalmente, setores mais organizados que devem brigar por ganhos mais elevados. A vantagem para o governo, nesse caso, é que quase sempre essas negociações são mais demoradas e os reajustes acabam ocorrendo nos meses seguintes. Assim, o possível efeito sobre a inflação seria jogado para frente. Mês crítico A partir de junho, a situação vai ficando um pouco mais complicada porque, nesse período, estarão negociando reajustes salariais categorias como a dos portuários, eletricitários e trabalhadores da indústria da borracha. "O dissídio dos portuários ocorre numa época crítica por causa do embarque de grãos", observa Utsumi. Em junho também estarão negociando os trabalhadores da indústria de artefatos de couro e os farmacêuticos, mas a expectativa é que os acordos não sejam problemáticos. Em setembro, engrossam a lista da briga por reajustes os petroleiros, trabalhadores do comércio atacadista e varejista e bancários, categorias fortes que normalmente costumam ter ganhos maiores. "O principal são os petroleiros que vão querer um reajuste significativo e podem causar desgaste ao governo", avalia a economista. Os bancários conseguiram, no ano passado, um reajuste dentro do que estava sendo pedido, cerca de 7,5%. Este ano, eles deverão brigar pela recomposição integral da inflação acumulada nos últimos 12 meses, ainda mais porque os bancos vem registrando lucros consideráveis. A previsão dos especialistas, no entanto, é que essas negociações só deverão terminar meses depois da data-base. Com isso, o mais provável é que o pagamento ocorra em outubro ou novembro, justamente o período em que a inflação acumulada em 12 meses deverá cair mais fortemente, de acordo com as previsões do governo e dos economistas. O IPCA só deverá cair abaixo dos 15% a partir de outubro. Segundo Zeina Latif, como o nível de atividade econômica está fraco e o mercado de trabalho bastante ruim, não deverá haver espaço para maiores recomposições salariais no mesmo patamar da inflação registrada. "No geral, a tendência é por reajustes menores", diz.

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