O bilionário texano Allen Stanford e três de suas empresas foram acusadas de fraude massiva ontem e tiveram suas sedes americanas invadidas por agentes federais americanos. A Securities and Exchange Commission (SEC), organismo regulador do mercado financeiro americano, acusou o financista fã de críquete e mais dois executivos de montarem uma fraude de US$ 8 bilhões em produtos financeiros, prometendo rendimentos impossíveis a seus clientes. O esquema tem braços nos Estados Unidos, em Antígua - nas Bahamas - e em várias partes do mundo. Três companhias do bilionário serão investigadas por suspeita de integrar o esquema: o Stanford International Bank (SIB), banco localizado em Antígua, o Stanford Capital Management e o Stanford Group, no Texas. Ontem, agentes do FBI entraram em alguns dos escritórios do grupo nos EUA para apreender documentos. "Estamos descobrindo uma fraude de uma magnitude chocante, que espalhou seus tentáculos por todo o mundo", disse Rose Romero, diretor de um dos escritórios da SEC. Segundo o relatório da entidade, o SIB teria vendido US$ 8 bilhões em certificados de depósito "prometendo taxas de retorno muito altas, acima das existentes através de certificados reais oferecidos por bancos tradicionais". O escândalo no mercado financeiro dos EUA se parece em vários pontos com o que desencadeou a prisão, em dezembro, do ex-presidente da bolsa de tecnologia Nasdaq, Bernard Madoff - acusado de manter um esquema fraudulento de pirâmide que gerou prejuízos de cerca de US$ 50 bilhões a investidores do mundo todo. Stanford, que negou qualquer irregularidade, é amigo de várias celebridades, como o jogador de futebol inglês Michael Owen e o golfista Vijay Singh. As ações começaram depois que investidores, políticos e órgãos reguladores começaram a focar sua atenção aos retornos prometidos por empresas de investimento, após o caso Madoff. Segundo a SEC, até mesmo as empresas de Stanford tiveram perdas com o esquema Madoff, mas mentiram a seus investidores, negando o fato. A SEC também investiga o fato de que o SIB afirma ter obtido taxas de retorno de 15,71% em 1996 e 1997, o que foi considerado "improvável e suspeito" pelo órgão. Além disso, 90% do portfólio do banco se encontra em uma caixa preta protegida de qualquer avaliador independente, à qual apenas Allen Stanford e outro executivo da empresa, James Davis, têm acesso. Investidores como Kelly Dehay, membro da Associação Nacional de Conselhos Imobiliários, foram ontem ao escritório de Stanford em Houston para questionar sobre o que acontecia com os fundos e deram com a cara na porta. Dehay diz que um corretor de Stanford vendeu a ele certificados de depósito do SIB em Antígua e prometeu retornos acima de 8%. O SIB tem 30 mil clientes em 131 países com cerca de US$ 8,5 bilhões em ativos. "Comecei a planejar minha aposentadoria há um bom tempo", diz Dehay. "Me sinto traído." A Liga Inglesa de Críquete suspendeu negociações de patrocínio com o financista, apreciador do esporte, e suas empresas.