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The Economist: Não se preocupem com a inflação - ainda não

É improvável que o estímulo monetário provoque aumentos persistentes dos preços enquanto os mercados de trabalho continuarem em depressão

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Por Redação

Nunca no passado os bancos centrais haviam criado tanto dinheiro em tão pouco tempo. Nos últimos três meses, a base monetária dos Estados Unidos cresceu US$ 1,7 trilhão enquanto o Federal Reserve (Fed) comprava ativos usando dinheiro novo. O Banco Central Europeu (BCE) ampliou, na semana passada, seu programa de compra de títulos de emergência de 600 bilhões de euros para 1,350 trilhão de euros.

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A criação de dinheiro tem tacitamente financiado grande parte dos gastos de emergência destinados ao socorro das economias em razão da pandemia. E também andou respaldando os mercados de ativos. O Fed está adquirindo títulos podres, o Banco do Japão intensificou suas compras de ações, e dentro em breve poderá ser o proprietário de mais de 20% de muitas das grandes companhias japonesas. 

Ao mesmo tempo, as economias estão se contraindo. Consequentemente, a relação entre base monetária e Produto Interno Bruto (PIB) cresceu talvez nove pontos porcentuais no segundo trimestre de 2020. O que representa o maior aumento em várias décadas.

É natural que a criação de dinheiro em tamanha escala estimule o temor da inflação, que é a consequência do excesso de dinheiro em busca de bens e serviços muito escassos. Principalmente porque a pandemia reduziu a produção, pelo menos temporariamente, obrigou as fábricas e as lojas a fecharem as portas e limitou o comércio global. 

Não surpreende, portanto, que uma minoria de importantes investidores e economistas preveja o aumento da inflação, e até mesmo pesquisadores do Morgan Stanley; Ray Dalio, gerente de fundos hedge; assim como vários acadêmicos monetaristas. 

Federal Reserve, obanco central dos Estados Unidos. Foto: Karen Bleier/AFP

Depois da crise financeira de 2007-09, quando os balancetes dos bancos centrais também inflaram, essas previsões se revelaram completamente erradas. Mas, ao contrário daquela época, grande parte do estímulo hoje está indo para as contas bancárias das famílias. 

Em abril, por exemplo, o total das rendas dos americanos cresceu 11% graças à ajuda de emergência proporcionada pelo governo (e indiretamente pelo Fed), enquanto os salários em geral caíam 8% e 20,5 milhões de trabalhadores perdiam o seu emprego. Mais dinheiro nos bolsos dos consumidores, segundo a lógica radical, significa que desta vez será diferente - e a inflação é mais provável.

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Ocorre que não é. Várias razões sugerem que provavelmente os radicais estarão mais uma vez errados. Aliás, mesmo levando em conta a queda dos preços do petróleo, a inflação é muito menor na maioria dos países porque as famílias estão reduzindo drasticamente seus gastos e poupando mais. Em parte, por necessidade - é difícil gastar quando as lojas estão fechadas. 

Mas mesmo quando as economias reabrirem, os gastos provavelmente permanecerão fracos, em primeiro lugar porque o desemprego está nas alturas. Os dados mensais mais recentes referentes ao desemprego, de 5 de junho, provavelmente mostrarão uma taxa de desemprego de 20%. E com certeza será mais ou menos a mesma em muitos outros países, como a Grã Bretanha, que destinou generosos subsídios aos empregadores a fim de ajudá-los a manter os empregos. 

A insegurança da própria ocupação em um mercado de trabalho em depressão é um motivo suficiente para poupar. Por outro lado, os governos não podem substituir indefinidamente as rendas perdidas. Muitos já começam a pensar como reduzir o apoio financeiro para que as pessoas voltem a trabalhar.

Portanto, o risco imediato não é uma inflação forte, mas uma inflação muito fraca com uma recuperação lenta e uma reestruturação econômica dolorosa. Muitas empresas sairão do fechamento total tremendamente endividadas. Muitos trabalhadores poderão ser obrigados a mudar de um setor para outro. 

Nessa perspectiva, o maior perigo será que os estrategistas retirem essa ajuda cedo demais. Foi o que aconteceu em 2011, depois da crise financeira global, quando o BCE elevou as taxas de juros.

Segundo os mercados financeiros, este estímulo será insuficiente. Suas expectativas em relação à inflação sugerem que o Fed, o BCE e o Banco do Japão reduzirão em média suas metas para a próxima década. O próprio mercado acionário otimista dos EUA favorece as empresas que podem prosperar em um ambiente de inflação baixa.

Somente depois que as economias e os mercados de emprego se recuperarem é que uma elevação sustentada da inflação representará um risco.

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Os governos sairão da pandemia com uma dívida pública muito mais elevada, e poderão sentir-se tentados a pressionar os estrategistas monetários a manter aos juros baixos em lugar de aplicar os freios. 

Mesmo então, a inflação se tornará uma ameaça somente se os banqueiros centrais cederem à pressão e começarem a perder a confiança dos mercados. Em outras palavras, o tempo das preocupações virá. Mas não tão cedo. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA