Alexandre Tombini foi aprovado ontem pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado para ocupar a presidência do Banco Central no governo Dilma Rousseff. Durante a sabatina, o atual diretor de Normas do BC reafirmou os três principais compromissos adotados pelo presidente Henrique Meirelles: meta de inflação, responsabilidade fiscal e câmbio flutuante. Mas, sem abandonar a receita atual, demonstrou posição um pouco mais intervencionista no dólar. Evidenciando, nesse ponto, maior proximidade com o Ministério da Fazenda. "Não podemos deixar que políticas de outros países determinem a direção dessa importante variável da economia que é o câmbio".Desde a adoção do regime de câmbio flutuante em 1999, autoridades do BC têm defendido oscilação livre das cotações do dólar. Quem compartilha dessa visão acredita que eventuais desequilíbrios no câmbio ou nas contas externas são corrigidos pelo mercado com o tempo. Ontem, porém, Tombini deu sustentação teórica para uma postura mais incisiva do governo na política cambial. Ficou claro que, para ele, o sistema de câmbio é flutuante, mas essa oscilação deve refletir os fundamentos da economia e não simplesmente os movimentos do mercado. O governo já tem sido bastante intervencionista com medidas como a tributação dos investidores estrangeiros e pesadas compras de dólares no mercado à vista. Com o pronunciamento, Tombini mostra alinhamento com as medidas adotadas no Brasil. Mas foi além: ações recentes dos EUA e China exigirão que países emergentes adotem estratégia ainda mais complexa no esforço de evitar distorções.Pistas. Aos senadores, deu duas pistas sobre como pode agir para evitar novas distorções no câmbio. Primeiro, disse que o patamar das reservas internacionais no Brasil - hoje em US$ 286 bilhões -, são "moderadas" se comparadas a outros emergentes. Hoje, equivalem a pouco menos de 15% do PIB. Na China, a proporção é de 40%, na Coreia do Sul, de 30% e na Rússia 21%. Em outras palavras, na visão dele, há espaço para as reservas crescerem, o que quer dizer que as compras de dólares estão longe de atingirem o limite. Outra pista foi dada quando ele defendeu uso de ferramentas diferentes de política cambial em ocasiões extraordinárias. "Em situações excepcionais, são mais do que justificáveis o uso de instrumentos macroprudenciais", disse, ao comentar que é preciso evitar "bolhas financeiras e de crédito". "Não adianta aproveitar a abundante liquidez internacional existente, ter hoje fluxo de capitais de grandes proporções e, quando lá na frente eventualmente houver reversão, ter problemas."Na CAE, Tombini foi aprovado por 22 votos favoráveis e um contra. A votação no Plenário pode ocorrer hoje.