As negociações salariais obtiveram em 2012 o melhor resultado dos últimos 17 anos. Levantamento divulgado ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) indica que 94,6% das negociações no ano passado resultaram em aumento real de salários - acima da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). É o maior porcentual da série histórica da pesquisa, iniciada em 1996. O valor médio de aumento acima da inflação também foi recorde, de 1,96%, o que representa alta de 0,62 ponto porcentual em relação ao ganho médio de 2011.Para o Dieese, a tendência de aumentos acima da inflação deve se manter este ano. "Não acredito num recuo, seja na proporção de ganhos reais, seja no patamar de ganho real médio", disse José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de relações sindicais do Dieese. Ele argumenta que os juros estão no menor nível histórico e os resultados do começo do ano apontam um crescimento de 3% a 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB).Além disso, o economista cita que os sinais de recuperação da indústria, as medidas de desoneração da folha de pagamentos e a escassez de mão de obra em alguns setores devem fortalecer os trabalhadores na mesa de negociação com as empresas. Em 2012, mesmo tendo sido o setor que mais sofreu com a desaceleração da economia, a indústria concentrou a maior incidência de ganhos reais de salários (97,5%), sem registrar nenhuma negociação com reajuste abaixo do INPC.Salário mínimo. No geral, o número recorde de aumentos de salários acima da inflação foi conquistado no ano em que a economia brasileira cresceu só 0,9% e a inflação acelerou. No entanto, Silvestre observa que o crescimento do PIB, isoladamente, não garante ganhos reais. Segundo ele, a inflação e o aumento do salário mínimo são fatores determinantes. O reajuste de 14% (aumento real de 7,5%) dado ao salário mínimo em 2012 influenciou nas negociações dos setores de comércio e serviços, elevando os pisos salariais dessas categorias. "Neste ano, o reajuste em torno de 9% no valor do mínimo pode tornar um pouco mais lentas as negociações do primeiro semestre, mas não deve atrapalhar as conquistas dos trabalhadores", disse Silvestre.Presente à divulgação da pesquisa, o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, ressaltou que o resultado demonstra o acerto da campanha das centrais sindicais pela valorização do salário mínimo, que virou política de governo.Em 2002, só 1,3% das negociações resultaram em reajuste abaixo da inflação. Essas categorias tiveram perdas salariais de 0,01% a 2% em relação ao INPC.
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