Em mais um episódio do conflito denominado "guerra da celulose", a Argentina e o Uruguai vão se enfrentar novamente perante o Tribunal Internacional de Haia, nesta segunda e terça-feira. O governo uruguaio vai responsabilizar diretamente o presidente Néstor Kirchner pelos protestos que bloqueiam rodovias e pontes da fronteira entre os dois países. O presidente Tabaré Vázquez considera que, além de violar o direito de ir e vir dos cidadãos, os bloqueios tentam obter "por meio da coerção" a razão que não conseguem ter dos tribunais e organismos internacionais. Para o governo uruguaio, os protestos argentinos contra a instalação da fábrica de celulose da finlandesa Botnia às margens do rio Uruguai, na fronteira entre os dois países, tem que ser coibido pelas autoridades locais porque os bloqueios representaram, somente no verão passado, um prejuízo de US$ 400 milhões. "O governo argentino tem que garantir a livre circulação de pessoas e bens", afirmou o chanceler uruguaio, Reinaldo Gargano, na semana passada. O Tribunal de Controvérsias do Mercosul também já havia decidido neste sentido, mas Kirchner afirmou reiteradamente que não vai reprimir os protestos. Com a chegada do verão, alta temporada para o turismo argentino na costa uruguaia, os moradores e ambientalistas da Província de Entre Rios, na região em frente à Fray Bentos, onde a planta está sendo instalada, decidiram fechar a principal via de ligação entre os dois países, por tempo indeterminado. As outras duas pontes internacionais também têm sofrido bloqueios programados. Vázquez enviou seis cartas à Argentina antes de denunciá-la ao Tribunal de Haia, pedindo o fim dos bloqueios. Em julho, a Argentina sofreu uma derrota em Haia, quando os juízes decidiram negar o pedido de Kirchner de paralisar as obras da Botnia pelos "futuros danos" ao meio ambiente. O Tribunal ainda analisa a questão de fundo apresentada pela Argentina, que acusa o Uruguai de violar o Tratado do Rio Uruguai, ao decidir unilateralmente pela instalação da fábrica. As audiências em Haia serão realizadas nesta segunda e terça, e a decisão sobre se a Argentina deve impedir os bloqueios poderia ser anunciada nas duas primeiras semanas de janeiro.
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