O ex-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco do Brics, Marcos Troyjo, disse nesta terça-feira, 8, que a estratégia do presidente dos EUA, Donald Trump, por trás das tarifas das importações americanas vai fracassar. Ao participar do 11º Brazil Investment Forum, evento anual do Bradesco BBI, Troyjo afirmou que o objetivo de Trump é aumentar a fatia de manufaturas ocultas na composição orgânica dos Estados Unidos.
“E qual é a metodologia aplicada até agora? Por um lado, uma série de reformas que incluem desregulamentação, um choque em energia barata, aumentando também o choque disponível de energia fóssil e aquilo que se pronuncia como uma verdadeira rapa em impostos a ser colocados por empresas”, disse o ex-presidente do NDB.
O que Trump tenta, ao deflagrar essa guerra comercial, é resolver o incômodo causado pela desindustrialização dos EUA por conta de deixar de lado seus objetivos econômicos nacionais, em nome de objetivos geopolíticos ou de alianças que beiram a benemerência que, em um determinado momento, fizeram sentido, seja para ganhar via guerra fria, seja para quebrar uma união entre Moscou e Pequim nos anos 70.
“E tal benemerência se aprofundou ainda mais com a criação da Organização Mundial do Comércio e a pandemia, mais recentemente revelando uma vulnerabilidade dos Estados Unidos. Esse é o diagnóstico”, disse Troyjo.

E aí, diz ele, “tem agora esse vento de frente, esse vento de nariz”, que é a política comercial e a política industrial. Em relação à política comercial, todo mundo já viu isso aqui, os Estados Unidos estão voltando um único lado.
“E o efeito, é que, como os Estados Unidos são o país que tem mais empresas multinacionais no mundo. Se de repente você oferece energia barata, vantagens tributárias e impostos a pagar relativos, e você encarece artificialmente a produção do seu competidor mediante aplicação de tarifas, você tem um renascimento industrial nos Estados Unidos. Mas a minha impressão é que essa estratégia fracassará. E fracassará porque superestima a capacidade de resposta e a lógica de fornecimento dos próprios atores que estão hoje amparados na jurisdição americana”, disse Troyjo.
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A estratégia de Trump, de acordo com Troyjo, fracassará também porque uma empresa como a Ceylon, especializada em material esportivo, por exemplo, que até 2014 tinha a maioria da sua manufatura em território chinês e que por perceber que os salários na China não param de crescer, realocou uma parte da sua produção e distribuição para a Índia e o Marrocos verá seus investimentos passando por um processo artificialmente veloz de depreciação ao montar sua produção verticalmente nos EUA.
“O novo esforço de caixa vai machucar lucros, vai machucar o dinheiro. Portanto vai machucar o desempenho dos seus valores, que é aquilo que já está acontecendo”, disse.