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Aprendizado por projetos se consolida nas escolas

Cada vez mais instituições de ensino incorporam o método com o objetivo de desenvolver estudante de maneira integral

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Com a promessa de desenvolver os alunos de maneira integral – e não apenas o lado cognitivo –, cada vez mais colégios passaram a incluir em currículos o trabalho por projetos. Embora estejam quase onipresentes nas escolas atualmente, tanto particulares como públicas, há formas muito variadas de serem aplicados e pesos bem diferentes na proposta pedagógica. 

O Gracinha é conhecido por desenvolver projetos com as turmas, mas o colégio também lança mão de aula expositiva ou invertida quando necessário Foto: Ruy Kitagawa

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Na Escola Concept, o ensino é exclusivamente por projeto. Conteúdos, habilidades e competências a serem desenvolvidos a cada ano são reunidos dentro de alguns; em geral, são dois ou três a cada trimestre. Priscila Torres, diretora da unidade paulista, explica que todos os parâmetros e os objetivos são articulados em uma proposta de interesse dos alunos. Para o 3.º ano do fundamental, por exemplo, é esperado que aprendam em Ciências com a diferença entre animais terrestres e aquáticos; em Matemática, estimativa de massa; em Linguagens, as mídias digitais. “Eles queriam entender por que os ambientes naturais pareciam mais saudáveis na pandemia. A partir disso, construímos um telejornal.” 

Na proposta que a escola adota, os alunos são avaliados individualmente (cada um apresentou uma notícia) e coletivamente (fizeram um site reunindo tudo o que aprenderam na atividade). Apesar de todo o processo ser via projetos, há exames. “A gente tem autoavaliação, avaliação continuada e prova. Essa variedade é importante para entender onde estão as lacunas.”

Mescla. O mais comum, contudo, é que as escolas usem projetos concomitantemente a aulas por disciplinas e, nessas atividades, as “notas” sejam na verdade rubricas de aprendizados, classificando os alunos por grau de proficiência. “Quando se fala em aprendizagem por projetos, você sai do contexto de erro e acerto. Mas a escola tem de pensar em como conseguir evidências de que há aprendizado e dar um feedback ao longo do processo. A avaliação tem de acompanhar o percurso”, diz Bernard Caffé, fundador da plataforma de educação Jovens Gênios.

Alunos do Albert Sabin fazem trabalhos práticos, que ajudam na absorção de conteúdo Foto: Gisele Gaspari

Faz dois anos que a rede Poliedro passou a incluir projetos na grade do médio – antes havia só atividades extras. “Nosso modelo já contempla o novo ensino médio da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), com itinerários. Tem uma formação básica, igual para todos, e um modelo em que o aluno trabalha com conhecimentos específicos, que escolhe conforme suas afinidades. É aí que entram os projetos”, diz Andrea Godinho de Carvalho Lauro, coordenadora do médio do Poliedro. A instituição não abre mão de uma forte preparação para vestibular, e Andrea defende que os projetos contribuem. “As habilidades não são apartadas do conhecimento. Não há mais espaço para desenvolver o conteúdo sem a ligação com as competências socioemocionais.”

Se em teoria projetos despertam o interesse de aprender, na prática o modelo pode não ser o melhor para todos. “Entendo a importância, mas prefiro fazer provas”, diz Vitório Armani de Lacerda Lima, no 2.º ano do médio do Poliedro. “Quero Engenharia no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), preciso me preparar. Por isso acho que a escola tem de dar mais ênfase a provas mesmo. Em um projeto, a gente pensa na eficiência e divide as tarefas com cada um no que tem qualidade. Para a prova, tenho de me forçar no que não sei tão bem”, pondera.

Experiência. Apesar de ter ganhado relevância nos últimos anos, o ensino por projetos é tradicional em alguns colégios da capital paulista, como o Gracinha, que na década de 1990 já era uma referência no tema. “Projeto traz uma abordagem multidisciplinar, que permite mais interação. Mas nem tudo cabe em um projeto. Temos momentos de aula expositiva, de aula invertida”, afirma Ligia Mori, diretora pedagógica da escola. 

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Gizele Gasparri, professora de Ciências no Colégio Albert Sabin e na rede estadual, propõe projetos para suas turmas há mais de 20 anos. “Até hoje me emociono de lembrar de um de 2006 sobre correntes elétricas com uma turma da rede pública, quase todo com sucata.” 

A neuropsicóloga Adriana Fóz lembra que só fazer um projeto não basta Foto: Andre Conti

A neuropsicóloga Adriana Fóz, autora do livro A Cura do Cérebro, garante que pode ser um método eficaz, mas lembra que só fazer um projeto não basta. “A escola precisa checar a aprendizagem e o aluno ter consciência do que aprendeu. Para muitos, esses aspectos ainda têm de ser incorporados.” Ela diz que, por provas ou projetos, os alunos precisam ser exigidos. “Se trabalha só de jeito prazeroso, a educação fica falha. A cobrança cuidada é uma estimulação necessária. O cérebro tende à homeostase. Se lhe for permitido, vai só na sombra e água fresca.” 

No Equipe, a função dos projetos é tirar o alunos da zona de conforto. “No 2.º ano do médio, estudam a agroindústria. Antes da pandemia, eles iam a Ribeirão Preto visitar uma usina de cana, conversar com trabalhador rural, com responsável por indústria de alimentos, iam a acampamento de sem-terra. Isso envolve todas as disciplinas: inclui de Geografia a Química, de Filosofia a Biologia”, diz Luciana Fevorini, diretora da instituição.

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