A linha entre a experiência transitória de estudar no exterior e a mais definitiva, de mudar de país, é tênue. Decisões devem ser tomadas com consciência. Veja por quê.
Outro dia, atendi um casal que desejava deixar o Brasil através de estudos no exterior. Estavam convencidos que um mestrado em uma boa universidade lhes garantiria uma recolocação profissional na Europa, mesmo sem a cidadania europeia. Uma ideia sólida na teoria, embora não necessariamente viável na prática. Mais além, um projeto que não considerava a possibilidade de aproveitar a experiência e curtir a jornada, sem predeterminar o sempre incerto futuro.
Em tempos de crise, seja ela pessoal ou conjuntural, mudar de país em busca de melhores condições de vida é um desejo. O sonho de oportunidades novas, de crescer pessoal e profissionalmente, de conquistar aquilo que, por aqui, parece impossível, é recorrente. Para muitas pessoas - de todas as idades - essa possibilidade enche o coração de esperança.
No entanto, apesar de uma crise poder ser o motivo impulsionador de uma mudança, compreender o que representa se tornar um estrangeiro em um novo país é fundamental. É que nem todas as histórias têm o esperado final feliz e não é incomum ouvir narrativas de que o movimento poderia ter sido feito de outra forma. De fato, estudar fora não é equivalente a imigrar...
Há uma certa ilusão de que a vida fora do Brasil é melhor. Mas imigrar não resolve problemas nem é sinônimo de oportunidade, especialmente no mundo que estamos vivendo atualmente. A mudança de referenciais é drástica e, muitas vezes, essa guinada pode ser um desafio que exige um esforço emocional bem além da conta.
Estudar fora oferece uma situação confortável àqueles que querem experimentar a vida no exterior. Exatamente porque, a princípio, é uma experiência transitória, que será realizada em um número fixo de anos. Durante esse período, você tem tempo de conhecer e avaliar onde está vivendo, as pessoas, a cultura e de entender como vai se conectar com seu novo mundo. Você também sai do seu país de origem mais tranquilo e confiante. Vai conhecer muita gente e mergulhar na experiência internacional, com a garantia de que seu retorno vai acontecer.
Muitas pessoas que estudam no exterior, decidem ficar por um tempo indeterminado. Vivem intensamente a outra cultura, se qualificam profissionalmente e recebem ofertas de trabalho. Talvez já tenham partido com esse objetivo. Mas aproveitam os anos de estudo para firmar pé no novo território com planejamento, muita consciência e vontade de dar continuidade à vida que foram construindo ao longo dos seus anos de estudo.
Estudar fora, especialmente por um tempo prolongado, pode ser uma porta de entrada para viver em um outro país. Mas não deve ser o motivo. Afinal, ninguém pode afirmar antecipadamente que vai gostar da experiência e está pronto para deixar tudo para trás. Esse saber convicto só vem mesmo com o tempo, como um resultado da trajetória construída.
Então, se você está querendo estudar no exterior para poder imigrar, repense. Se permita fazer uma graduação ou pós fora do Brasil sem uma agenda oculta. É que o cotidiano em outro país muda muito quando o status de estudante internacional termina. Nesse momento, quando a realidade de ser um possível imigrante assenta, o glamour da vida universitária some e o dia-a-dia muda drasticamente. Quando a hora de decidir permanecer no exterior chegar, as condições oferecidas devem ser pesadas. Elas são boas o suficiente ou até melhores do que seriam aqui no Brasil?
Antes de atrelar seu plano de estudar fora a uma mudança de país, concentre-se no objetivo da sua jornada. Estude, conheça gente, dedique-se ao seu projeto. Viva o dia-a-dia, transforme-se, deixe o mundo se tornar a sua casa. Acredite, se a vida fora do Brasil for para você, ela vai acontecer.
Andrea Tissenbaum, a Tissen, escreve sobre estudar fora e a experiência internacional. Também oferece assessoria em educação e carreiras internacionais.
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