Sempre insisti no pouco (proporcionalmente falando) que se estudou as transformações ocorridas no "convívio humano" pela comunicação no espaço digital. É improvável que a qualidade das interações nesse espaço não tenha sido profundamente alterada. Se as alterações são complexas e de difícil aferição, fica a certeza de sua existência e a urgência de compreendê-las, sobretudo agora, quando nossas vidas ficaram quase que limitadas a elas e, no caso da educação, totalmente limitadas.
Às considerações feitas sobre essa nova modalidade de educação, acrescentar os riscos adicionais que corremos quando submetemos crianças a elas (sempre lembrando da diferença abissal entre educação e ensino, coisa ainda difusa para a maioria). Em crianças cuja presença física das "tias" faz toda a diferença, o distanciamento, por mais que, hoje, os meios digitais sejam "normais" a elas, o vazio que se abre pode ser muito comprometedor. É um tempo em que atenção, ternura e contato físicos fazem toda a diferença.
Tal vácuo se agrava, perigosamente, quando menosprezamos a necessidade, humanamente vital, do convívio das crianças com outras crianças.: Tão importante quanto professores, muito mais importante do que qualquer material de apoio, o espaço do recreio, as brincadeiras ao redor dos conteúdos e das atitudes docentes são os catalisadores do projeto pedagógico. Como fazê-lo viável sem esses fatores é o crucial desafio!
Aqui já não menciono, por merecer um capítulo substancioso e à parte, a enorme carência dos avós para aqueles que os têm e que, agora, foram brutalmente privados.
O que estamos sentindo é o florescer de uma educação que se tornou insípida e deseducadora, pois quase reduzida, cruelmente, a conteúdos, a exercícios desumanizados, robotizados e em regimes que minimizam a riqueza do imaginário infantil e da sua necessidade vital do lúdico e do encantamento, que só a intermediação humana direta consegue imprimir com efetividade.
Aqui, é indispensável a presença da família enquanto supridora desse calor humano, enquanto gerenciadora e neutralizadora da quase sempre presente aridez das didáticas implementadas a distância. A família não deve e não pode, no que se refere à educação infantil, querer reduzir seu papel, nessa educação formal domiciliar, à função disciplinadora. Ela deve buscar, na medida do possível, o calor humano que justifica e efetiva a educação.
Na educação a distância é que se desnudarão as verdadeiras naturezas dos projetos pedagógicos que as famílias contrataram. Aqui, a importância do educando, enquanto sujeito do processo de aprendizagem se revelará, pois, tal evidência saltará aos olhos pelos esforços de abordagens humanizadas, pois individualizadas e, assim, centradas em um cuidadoso e exaustivo esforço de envolvimento e apoio a todos os atores da educação, secundarizando objetivos menores.
Professor Henrique Vailati Neto é diretor do Colégio FAAP - SP. Formado em História e Pedagogia, com mestrado em Administração. É professor universitário nas disciplinas de Sociologia e Ciência Política. Tem quatro filhos e quatro netos.
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