Por Michele Rascalha*

Se você nasceu antes de 1980, provavelmente já ouviu falar de uma classificação que o reconhece como um imigrante digital, ou seja, aquela pessoa que, por não ter nascido ou crescido imersa em um mundo onde as TDICS (tecnologias digitais da informação e comunicação) já se encontravam tão avançadas e diversificadas como nos dias atuais, precisou encontrar meios para se adaptar a uma verdadeira revolução marcada principalmente pela criação da internet, dos celulares e de muitos outros recursos digitais.
Segundo o pesquisador americano Marc Prensky, ao contrário dos imigrantes, os nativos digitais apresentam a capacidade de realizar várias tarefas ao mesmo tempo e utilizar os recursos digitais com muito mais facilidade do que seus antecessores para entretenimento, pesquisa e aprendizagem. Devido a isso, convencionou-se pensar que esses indivíduos "já nascem sabendo" como transitar pelo mundo digital e tornou-se comum apenas lhes fornecer as ferramentas para que as explorem intuitivamente.
Mas, ao observá-los de perto, será isso um fato? Há garantia de que esses jovens não precisam ser letrados para lidar com o mundo no qual nasceram e estão crescendo? De que não precisam "aprender a fazer" e "aprender a aprender" com as TDICS? Segundo outros analistas, Paul A. Kirschnerab e Pedro De Bruyckerec, a resposta é um sonoro não! Para eles, não há evidências atestadas por pesquisas recentes de que os nativos digitais sejam realmente capazes de realizar várias tarefas ao mesmo tempo sem prejudicar sua concentração ou de aprender através dos meios digitais apenas de modo intuitivo e menos passivo do que as gerações anteriores, ou seja, sem um processo de letramento digital.
De um modo simplificado, podemos dizer que ser um grande usuário de smartphones, tablets, notebooks, aplicativos, games e redes sociais não garante que o indivíduo seja digitalmente letrado. A simples inclusão aleatória das novas tecnologias nas aulas também não garantirá o desenvolvimento dessa importante competência do século XXI. Basta notar que, quando se deparam com a necessidade de realizar tarefas e pesquisas por meio de softwares de produtividade ou sites de busca, são muitas as dificuldades que os alunos demonstram.
É papel da escola promover a formação continuada de seus professores e fornecer-lhes os recursos necessários para integrar a tecnologia ao processo de ensino-aprendizagem de modo planejado. Apesar de terem nascido e estarem crescendo em plena era digital, habilidades como criatividade, raciocínio crítico e avaliação, compreensão e inserção sociocultural, pesquisa, capacidade de garantir a própria segurança no mundo digital e saber usar as ferramentas e linguagens digitais com eficiência e respeito ao outro não são inatas e demandam um sólido projeto de tecnologia educacional em parceria com a supervisão familiar.
Portanto, se você alguma vez já se sentiu constrangido porque seu filho ou filha precisou ensiná-lo a usar um app do celular, saiba que nossas crianças e jovens também precisam de ajuda e formação para navegar com facilidade e segurança pelas águas da era digital.