Blog dos Colégios

Opinião | As sutilezas do período de adaptação na educação infantil

Entendemos que a adaptação das crianças pequenas em nossa escola deve ser feita gradualmente, com a presença dos pais em tempo integral durante a primeira semana. O processo precisa ser lento e gradual, respeitando o tempo de cada criança, de cada família, de cada pai, de cada mãe.

PUBLICIDADE

Por Colégio Ofélia

"Nesta vida, pode-se aprender três coisas de uma criança: estar sempre alegre, nunca ficar inativo e chorar com força por tudo o que se quer." (Paulo Leminski)

 As lágrimas que escorrem dos pequenos olhos e o choro, contínuo ou parcelado, gritado ou soluçado, aflito ou mais contido, nos diz das manifestações mais legítimas que as crianças pequenas encontram para comunicar a sua entrada no mundo. Não nascemos prontos, estamos o tempo todo nos deparando com situações novas e desafiadoras, angustiantes e que, por isso, podem gerar inseguranças e medos. Desse modo, sair do seio familiar e entrar em um universo novo (a escola) encontrar outros adultos (o professor-referência) em que possa confiar, reconhecer outros espaços e se reconhecer enquanto parte de um grupo, constitui o que chamamos de período de adaptação. Neste período a relação composta na tríade família-escola-criança é muito fundamental. É preciso que os pais estejam seguros em deixar seus filhos na escola, que as crianças possam sentir essa segurança vinda de seus pais e do professor que irá recebê-los, assim como, que a escola seja um ambiente acolhedor e encantador.

 Foto: Estadão

PUBLICIDADE

 A adaptação precisa ser lenta e gradual, respeitando o tempo de cada criança, de cada família, de cada pai, de cada mãe. Assim, esse processo acontece em um tempo indeterminado, com avanços e retrocessos. Muitos estudos vêm sendo feitos, desde a década de 1950, na França (com David e Appel) e no Reino Unido - Bowlby (1953) e Mary Ainsworth (1974), além de uma série de filmes de James Robertson - que retratam as reações das crianças pequenas quando separadas dos adultos queridos. Estas reações podem começar com a perplexidade, choro desconsolado, protestos violentos, até momentos de apatia e ausência de fome. Desse modo, podemos entender a partir das contribuições de Elinor Goldschmied e Sonia Jackson (2006), que as crianças são pequenas demais para compreender a complexidade da categoria tempo. E o que parece um período curto para um adulto, pode significar para uma criança a sensação de abandono definitiva.

 Por estas razões, entendemos que a adaptação das crianças pequenas em nossa escola deve ser feita gradualmente, com a presença dos pais em tempo integral na escola durante a primeira semana. No primeiro dia, as crianças permanecem na escola por uma hora. No segundo dia, duas horas e assim sucessivamente. Na nossa experiência deste ano, as reações foram diversas, algumas crianças foram mais resistentes à aproximação, outras se encantaram rapidamente com os espaços da escola. Algumas choravam compulsivamente, outras gritavam, outras tinham choros curtos durante todo o dia. E também teve aquelas que, mesmo desconfiadas, estavam mais seguras e manifestaram de outros modos seu estranhamento com a chegada à escola.

 Nesse momento, as crianças precisam da chupeta, do paninho, do urso de pelúcia ou qualquer outro objeto de apego que seja significativo e lhes dê segurança. O colo pode ser o lugar de conforto e, aos poucos, podem superar e seguir de mãos dadas. Os lugares que trazem elementos conhecidos pelas crianças também são importantes estratégias, como nos foi o tanque de areia. As crianças não conhecem a escola, mas conhecem a areia de suas andanças por outros parques e viagens, isso gera uma sensação de bem estar.

Publicidade

 Os pais esperavam as crianças na biblioteca da escola, de modo que as crianças sabiam que eles estavam lá, esperando por eles. Quando o choro ficava muito intenso, nossa estratégia era caminhar até a biblioteca passando por lugares como o tanque das tartarugas, procurando transformar o novo angustiante, em novo encantador. E de fato assim se fez. Entre a nossa sala e a biblioteca, as tartarugas foram tão acalentadoras quanto o colo e um abraço.

 Foto: Estadão

 Nessa semana de adaptação, nas andanças chorosas pela escola, houve momentos em que tudo ocorreu bem e outros em que nada parecia dar certo. Mas, é juntamente nesse lugar de perdas e ganhos que o vínculo com as crianças e as famílias foi se estabelecendo, de modo que as crianças passaram a entender que conhecíamos seus pais, sabíamos onde eles estavam e como encontrá-los quando fosse necessário.

 Ainda que tenha uma semana destinada à adaptação, ela não terminou ali. A segunda parte da adaptação começou quando os pais não estavam mais na escola. Momento em que nossa rotina começou a se configurar de maneira acolhedora e divertida, com histórias, brincadeiras, arte, música, entre outros momentos e atividades. Os choros de entrada passaram a ser mais curtos, até que se findaram totalmente. As crianças que se sentiam mais seguras passaram a acolher as que ainda estavam inseguras, dizendo: "calma, está tudo bem!". E o vínculo das crianças conosco, com as crianças e com os outros adultos da escola foi se estabelecendo.

 Hoje, passados dois meses, as crianças circulam com autonomia pela escola, correm e pulam, reconhecem os outros professores e funcionários da escola e todas as crianças do grupo pelo nome. No entanto, a adaptação da vida ainda não terminou! Situações novas e de mudança virão (como o desfralde, deixar a chupeta, a entrada ou saída de uma criança do grupo...) e essas situações precisam de toda a nossa atenção e cuidado, pois se olharmos a sutileza dos choros, da angustia e dos medos desde a primeira infância, certamente, estaremos mais preparados para a vida que é cheia desses lugares, gentes e situações novas...

Lays Pereira Professora do Grupo I da Educação Infantil

Publicidade

Opinião por Colégio Ofélia
Comentários

Os comentários são exclusivos para cadastrados.