Ensinar que, desde a Pré-história, o ser humano se preocupa em registrar a sua existência (seu passado, seu presente e suas projeções de futuro) ainda não me satisfazia. Faltava algo. Essa forma de valorizar exclusivamente o passado e o início das nossas civilizações acaba distanciando o aluno da questão central: o indivíduo como protagonista da história. Sentia, durante as minhas aulas, que tudo ficava lá longe e que, só lá longe, a história poderia acontecer.
Foi assim que me dediquei a levar para a sala de aula a pesquisa a partir das metodologias da história oral e da história de vida.
Dessa forma, eu me vi diante de um novo desafio: como motivar os alunos a se interessarem por uma metodologia que não aparece nos livros didáticos?
Os alunos são apegados aos métodos de ensino tradicionais e ainda acreditam que os livros didáticos são, por si só, uma verdade absoluta, assim como qualquer material escrito. Não foi fácil convencê-los de que existem outras formas de estudar história, que o cotidiano também é história, que os documentos escritos podem ser questionados e que ouvir uma pessoa que viveu a história também é conhecer a história.
Nesse processo, encontrei o livro A mala de Hana: uma história real, que me mostrou o caminho que tanto buscava. O livro traz a história de uma menina (Hana Brady) que viveu o Holocausto e o processo de pesquisa de uma estudiosa de um museu no Japão (Fumiko Ishioka).
O projeto "Malas de Memórias", realizado com as turmas do 9º ano, tem como ponto de partida a leitura desse livro, a fim de compartilhar com o aluno a experiência de Fumiko e sua busca incansável pela história de Hana. Assim, incentivo os alunos a buscarem histórias de suas próprias famílias, a partir de um tema: pessoas que viveram situações de conflito, como guerras, exílios, migrações forçadas ou ditaduras.

Os alunos, em grupos, devem encontrar a história de um antepassado que queiram contar, estudar sobre o momento histórico que essa pessoa viveu e elaborar um roteiro de perguntas que abranja tanto o aspecto histórico da vida desse parente como seu cotidiano naquele momento (por exemplo, infância, experiências pessoais, opiniões etc.). Com essa etapa concluída, os alunos partem para a entrevista. Como, muitas vezes, esse antepassado já faleceu, os alunos podem entrevistar um parente que saiba contar a sua história.
Com o estudo do momento histórico e a entrevista prontos, os grupos passam a escrever um texto, mesclando a história dos livros com a entrevista feita.
Então começa a etapa mais lúdica e poética do projeto: elaborar uma mala com objetos que contem a história pesquisada e escrita. Nesse momento, surgem ideias incríveis, objetos inesperados, formas de representar o passado que só os alunos poderiam criar.
Dizer que esse projeto é gratificante é pouco. Todas as pessoas envolvidas gostam demais do resultado: os alunos aprendem mais sobre sua história pessoal, suas famílias se emocionam com o resgate histórico e os visitantes de nossa Mostra de Projetos se encantam com a variedade, a beleza e os conhecimentos que nossas "malas" apresentam.




Quem disse que a história está lá longe, em um passado distante?
Agradeço aos amigos Prof. Romulo Braga e Profas. Adriana Orselli e Denilse Guenka pela parceria na criação desse projeto.
Érica Turci
Professora de História do Ensino Fundamental II
Todos os projetos e exemplos mencionados neste blog referem-se às Unidades Sedes do Poliedro.