Solidariedade em tempos de pandemia: aprendizados sobre humanidade

Em meados de março, a rotina de milhares de pessoas mudou completamente: escola e trabalho a distância, isolamento social, informações sobre cuidados médicos e contagem de números de mortes nas telas das televisões e computadores. Vidas virando números e a mancha vermelha do contágio se espalhando pelos continentes, estados, cidades e bairros.

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Por Colégio Santa Maria
Atualização:

Seguramente estamos vivendo um momento ímpar na história da humanidade, que será lembrado por anos a fio e cujas consequências serão mapeadas e analisadas por muitos pesquisadores no futuro. As reportagens e as reflexões que procuram entender o significado dessa pandemia ainda estão permeadas pelas reticências normais à análise feita sem o distanciamento histórico e no calor dos acontecimentos cujos desdobramentos estão sendo, paulatinamente, revelados.

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A insegurança, portanto, é parte do processo de uma experiência que foge de nosso controle e conhecimento. A preocupação diária se volta para o fundamento mais básico da existência: a vida. Neste período, o nosso dia a dia sofreu diversas mudanças e passou por inúmeras adaptações a fim de garantir o cuidado e a saúde do maior número de seres.

As pessoas passam a ser confrontadas com a necessidade de autopreservação e responsabilidade coletiva. Experiências comunitárias e ajuda mútua e de apoio passaram a ocupar espaços nos jornais e um elemento essencial da nossa configuração social se escancara: a desigualdade.  As vidas se configuram das mais diversas formas, mesmo entre as populações que estão ao nosso entorno: classes sociais, diversas identidades de gênero e faixas etárias distintas experimentam esse momento das mais variadas formas.

No Colégio Santa Maria, alunos e alunas passaram a frequentar as aulas e produzir por meio de suas telas, auxiliados pela internet e explorando a tecnologia para continuarem aprendendo. O saber acadêmico continuou seu processo, após algumas adaptações. Mas, e os saberes produzidos coletivamente por meio das nossas experiências? E as outras populações na qual nos relacionávamos cotidianamente?

Essa pergunta passou pela cabeça dos voluntários e voluntárias que fazem parte do grupo de Inserção Social do Santa Maria e se transformou em uma linda rede de comunicação e articulação em prol dos nossos amigos de sexta-feira: os idosos moradores do Centro de Acolhida Jardim Umuarama.

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Os alunos e alunas descobriram, primeiro, que o dia a dia não havia mudado radicalmente para todo mundo: os idosos continuavam as suas tarefas como sempre as faziam e paralelamente ouviam - e ouvem - diariamente que são mais frágeis, mais suscetíveis à contaminação e estavam no centro de disputas das teorias ao redor da forma mais razoável de isolamento.

E essa foi a segunda descoberta de nossas/os estudantes: a ampliação das políticas de saúde e isolamento dos idosos no Centro. As poucas visitas que os moradores recebiam não poderiam mais acontecer em virtude da necessidade de protegê-los desse invisível e presente inimigo, ao mesmo tempo que não tinham as condições técnicas ou as habilidades para organizar encontros remotos como fazíamos no Colégio.

O grupo da Inserção Social chegou à conclusão que queriam e precisavam compartilhar o seu afeto e cuidado com os seus amigos: fariam alguma coisa para demonstrar a saudade, destacando a importância do isolamento momentâneo, mas garantindo que a ligação ultrapassaria os portões colocados entre eles: a distância não poderia acabar com a solidariedade que anima nossas ações.

Assim, o grupo de alunos e alunas da Inserção Social se auto-organizou para escrever uma carta e conseguimos doações de três cestas de frutas e diversos bolos para presenteá-los na véspera da Páscoa. Foi uma tarefa mais complicada do que esse relato possa transparecer, pois precisávamos reunir as doações garantindo o isolamento das alunas e alunos.

Com a ajuda de pais, colegas e instituições conseguimos realizar a doação e, o mais importante, atingimos nosso objetivo de continuar presente no dia a dia dos nossos amigos. Em resposta, recebemos a mensagem que estávamos com eles diariamente, "incrustados" em seus corações.

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Adolescentes de 15 a 18 anos aprenderam, e hoje ensinam, que ter humanidade significa compartilhar da ideia de que todas as vidas são igualmente importantes, independente e acima de quaisquer diferenças. Convivendo com os idosos, sabiam o quanto a troca entre pessoas com diferentes histórias e saberes nos fortalece. Usaram do seu afeto e conhecimento para lutar pelo bem-viver. Os alunos e alunas mostraram que ser solidário é respeitar e comungar com o diverso, construindo um mundo melhor começando por agora.

 
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