Competições matemáticas têm ganhado força no País nos últimos anos, numa perspectiva de tornar a disciplina mais acessível e instigante para as crianças e adolescentes. Além da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), que já tem 20 anos, a prova internacional Canguru de Matemática bate recorde de inscritos no Brasil. Pesquisas mostram impactos positivos na aprendizagem de estudantes e escolas participantes.
No ano passado, o total foi de 1,3 milhão de alunos na Canguru e aumento de 248% no número de escolas inscritas, cerca de 7 mil. É o país com a maior quantidades de estudantes entre os centenas que fazem o exame no mundo.
A estimativa para este ano - a Canguru está sendo realizada em março e abril - é de 1,8 milhão de estudantes. Entre eles, há alunos de escolas públicas, mas também muitas instituições particulares de elite, com perfil humanista, menos voltadas para o espírito competitivo.

A OBMEP também teve em 2025 o maior número de escolas e cidades inscritas já registradas em duas décadas de história. A prova é realizada em 99,93% do municípios do País, por 18,6 milhões de estudantes.
Cristina Diaz, CEO da Upmat Educacional, que organiza a Canguru no País, explica que a ideia é fazer uma “grande celebração da Matemática” e diz que os resultados podem ser usados da forma que a escola entender melhor.
“Algumas dão diplomas, medalhas, colocam em outdoor. Outras só levam as questões para debater na sala de aula”, afirma. “O objetivo é que crianças do mundo todo percam o medo da Matemática.”
O exame é o mesmo em todos os países, só traduzidos para língua local, e feito por um grupo de especialistas internacionais. A ideia é uma prova que não é focada em conteúdo e, sim, na resolução de problemas e raciocínio lógico, independentemente da idade ou série do estudante.
É algo semelhante ao que aparece também em provas como o Pisa, feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e que o Brasil fica sempre entre as últimas colocações.

As questões abordam identificação de padrões ou desafios em situações que fazem sentido para as crianças e adolescentes, que estão do 3º ano do fundamental até o último do ensino médio. “Não depende se a criança teve fração na escola ou não, não é uma prova curricular”, explica Cristina.
“Os desafios da Canguru são muito inteligentes, são abertos, obrigam a criança a pensar, o que importa não é a resposta correta somente”, diz a diretora da Escola Vera Cruz, Regina Scarpa, cujos alunos participam da prova de forma voluntária. Os que se saem melhor recebem medalhas. Para ela, competições como a Canguru mobilizam as crianças e jovens para o interesse e estudo da Matemática.
O nome Canguru é em homenagem a um professor australiano que inventou uma prova divertida de matemática nos anos 1990. Cristina acredita que a avaliação está muito conectada à ideia de uma disciplina que é criativa e sem decorebas.
Como o Estadão mostrou, cresce no Brasil e no mundo uma nova abordagem para o ensino da Matemática, que estimula a descoberta, pensamento lógico, criar hipóteses e encontrar o resultado da sua própria maneira. E, além disso, mudar as atitudes diante da disciplina e acabar com a crença de que só algumas pessoas têm jeito para a Matemática. “A gente decora, passa no vestibular, entra na faculdade e vai deixando buracos na vida adulta”, diz Cristina.
Vagas na USP e na Unicamp para medalhistas
Mais antiga, a OBMEP já abre oportunidades até para ingresso no ensino superior. A Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), duas das maiores do País, têm vagas específicas para medalhistas dessa e de outras olimpíadas de conhecimento.
O Impa Tech, um bacharelado federal em Matemática da Tecnologia e Inovação do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio de Janeiro, reserva 80% das vagas para estudantes medalhistas em olimpíadas científicas.
Pesquisas que já investigaram os efeitos da participação na olimpíada mostram impacto significativo na aprendizagem dos alunos e da escola. Uma delas diz que o benefício aumenta conforme a maior quantidade de vezes que a instituição inscreve seus alunos para a competição.
“O efeito se dá porque as escolas envolvidas com a OBMEP por um período maior de tempo modificaram seu projeto pedagógico para o ensino de Matemática, incluindo na sua rotina atividades que oportunizam o aprendizado dessa disciplina”, diz o estudo realizado pelos pesquisadores Camila M. Machado Soares e Elisabette Leo, sob supervisão do professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Francisco Soares.
A pesquisa afirma ainda que os professores também se qualificam melhor porque se envolvem mais com o ensino da Matemática e aponta que as premiações despertam maior interesse de todos os alunos pela disciplina.