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Cursos superiores entram em revisão

Mudanças incluem não só o conteúdo das aulas e a estrutura do currículo, mas também a participação ativa dos alunos nos ensinos e práticas

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Por Redação
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Para além das mudanças trazidas pela migração dos cursos presenciais para modelos remoto e híbrido, a crise causada pelo novo coronavírus está repercutindo diretamente no conteúdo dos cursos de ensino superior. As instituições estão sendo forçadas a procurar novos componentes e práticas curriculares que dialoguem com a situação. Totalmente única na história da humanidade.

No Instituto Singularidades, focado na área de educação, por exemplo, alunos de licenciatura estão revisando seu próprio aprendizado para entender as dinâmicas que impactarão também as escolas de ensino básico. Segundo Cristina Nogueira Barelli, coordenadora do curso de Pedagogia, os princípios, pressupostos e currículo do curso mudaram visivelmente. “Vivenciamos uma mudança de ordem metodológica e de estratégia de ensino e aprendizagem, ao mesmo tempo que nossos alunos passaram por essas mudanças em seus estágios”, explica.

Em outras instituições, como a Universidade Federal do ABC, o corpo docente tem trabalhado para inserir novos componentes curriculares na grade, permitindo maior adaptação e até a criação de disciplinas relacionadas ao contexto atual. “Agora é possível, por exemplo, criar uma abordagem nova para questões sociais e econômicas relacionadas à pandemia”, diz Paula Tiba, pró-reitora da instituição. Ela destaca ainda uma mudança comportamental dos alunos ao escolherem as aulas de cada ciclo letivo. “Eles têm autonomia para selecionar disciplinas eletivas e obrigatórias, mas a impressão é que perceberam as dificuldades do remoto e passaram a focar ainda mais no que desejam cursar, selecionando menos disciplinas por período”, analisa.

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Por razões óbvias, os programas de ensino da área da saúde foram os primeiros e os mais impactados pela crise sanitária. Diferentemente de outras áreas que ficaram mais restritas ao ambiente virtual, muitos alunos de medicina e enfermagem, dentre outros, puderam atuar na linha de frente em hospitais, clínicas e laboratórios, afetando a vivência da graduação.

Com a possibilidade de fazer estágio na rede de saúde desde o primeiro semestre, os alunos do curso de medicina do Centro Universitário de Jaguariúna (UniFAJ) puderam mergulhar no tema em atividades que repercutiam casos vivenciados na prática. “Temas de fisiopatologia, quadros infecciosos, epidemiologia, defesa do organismo ou movimento anatômico, tudo foi adequado para que pudesse refletir o combate à covid-19”, explica Flávio Pacetta, diretor da instituição.

A prática interdisciplinar, embora já prevista nos cursos, também ganhou força. “No começo da pandemia, quando faltou álcool em gel e havia dúvidas sobre seu uso, nós reunimos alunos de farmácia e engenharia para produzir totens informativos, usados tanto internamente quanto em comunidades, por meio de doação”, relembra Pacetta.

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Contra o negacionismo

A maior interseção entre os cursos também é apontada como uma tendência positiva por Milton de Arruda Martins, presidente da Comissão de Graduação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “Ninguém hoje imagina tratar um paciente de covid-19 com apenas um médico. É toda a equipe que participa. Essa questão ficou tão clara que vejo como janela de oportunidade para reforçar essa formação interprofissional, tão importante no século 21”, diz o professor da USP.

Ao falar sobre as mudanças na estrutura dos cursos, Martins diz que um dos pontos mais urgentes para a formação de médicos é reforçar a importância da medicina baseada em evidências. “Ficou ainda mais claro que os alunos precisam estudar os critérios para o desenvolvimento e a utilização de novos medicamentos. Estamos em uma crise de negacionismo, de visão anticientífica por parte de vários setores da população e a discussão sobre o uso de medicamentos de forma mais científica precisa ser reforçada nos cursos”, defende.

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Os alunos têm autonomia para selecionar disciplinas eletivas e obrigatórias, mas PERCEBERAM AS DIFICULDADES DO REMOTO e passaram a focar ainda mais no que desejam cursar

PAULA TIBA, pró-reitora da Federal do ABC

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