Diretores criticam greve na USP: ‘Universidade é dinâmica. Não para e não pode parar’; veja vídeo

Em ato online em que leram carta conjunta, dirigentes falaram das barricadas que impedem professores de entrarem em unidades; paralisação atingiu várias faculdades

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Foto do author Renata Cafardo
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Diretores de 50 das 51 unidades da Universidade de São Paulo (USP) lançaram uma carta aberta à sociedade em que defendem a atual gestão e dizem que há em curso um “programa ambicioso de renovação do quadro docente”. A instituição enfrenta uma paralisação de estudantes, iniciada na semana passada, que cresceu nos últimos dias. Há relatos de professores impedidos por alunos de entrar em prédios da instituição e paralisação de aulas em muitas unidades.

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Cada um dos 28 dirigentes presentes ao ato online leu um trecho do texto. Eles afirmaram também que algumas manifestações de alunos grevistas “não condizem com o ambiente acadêmico” e promovem “interdições físicas que bloqueiam o acesso aos espaços da universidade, em alguns casos acompanhadas por constrangimentos a professores, servidores técnico-administrativos e alunos”.

“A universidade é dinâmica. Não para e não pode parar”, disseram os diretores. Participaram do ato o diretor da Faculdade de Direito, Fernandes Campilongo; Eloísa Bonfá, da Faculdade de Medicina, João Sette Whitaker, da Arquitetura e Urbanismo (FAU); Paulo Martins, da Faculdade de Filosofia (FFLCH), Reinaldo Giudici, da Escola Politécnica, Brasilina Passarelli, da Escola de Comunicações e Artes (ECA), entre outros. A única diretoria que não assinou o documento foi o Instituto de Psicologia.

Os diretores mencionam ainda na carta que, “apesar da longa tramitação dos concursos públicos para contratação de docentes, que duram cerca de oito meses para serem concluídos, as contratações estão em franco progresso, com 240 novos docentes já contratados”.

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O texto dos gestores destaca o aumento de alunos vindos de escolas públicas na USP nos últimos anos e a ampliação de 60% no investimento “em bolsas e com reajuste de valores que não têm paralelo na história da universidade”.

Foram mencionadas ainda a posição da USP nos rankings internacionais e a intensa produção científica da instituição. “Uma parte significativa desse processo é nosso alunado. Nos orgulhamos de formar cidadãos críticos e participativos. Respeitamos a autonomia do movimento estudantil em nossa instituição, pois esse respeito é parte do nosso compromisso democrático”, afirmou o texto.

Por causa da greve, parte dos docentes recorre até a aulas online para manter as atividades, como mostrou o Estadão. Mesmo assim, algumas aulas remotas também têm sido impedidas de acontecer por manifestações de alunos.

Em entrevista exclusiva nesta quinta-feira, o reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior pediu que a comunidade da USP contrária à paralisação que se manifestasse. “As pessoas precisam se mobilizar, tanto professores quanto alunos, no sentido de mostrar o que realmente querem. Uma minoria faz barricadas e ninguém tem aula”, afirmou ao Estadão. “Não vamos usar a força”, completou, referindo-se às barricadas nas entradas das unidades.

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Como mostrou o Estadão, em uma década, a USP perdeu cerca de 800 professores, após anos sem novas contratações em virtude da crise financeira e da proibição a concursos na pandemia. Em 2022, a reitoria havia autorizado contratar 879 profissionais, de forma escalonada, até 2025, mas adiantou as vagas para este ano após pedidos e pressões.

Cadeiras empilhadas na entrada do Instituto de Matemática e Estatistica, na USP, em greve de estudantes Foto: Marcelo Chello/ESTADAO

Mesmo assim, os ânimos não se acalmaram e a greve eclodiu. Alunos que lideram o movimento e parte dos professores veem o plano como insuficiente e cobram mais agilidade nas soluções. Os estudantes à frente da greve dizem que a ação é “justa”, “necessária” e negam agir com violência.

“Prefiro pensar a USP como uma universidade que defende a liberdade, até de divergir, mas conversando. Formamos os nossos alunos para que sejam críticos, mas esse tipo de movimento, que usa a força, não cabe dentro da USP”, diz ele, sobre queixas de professores sobre agressões e barricadas.

O reitor lembrou movimentos realizados no dia 11 de agosto de 2022 e contra os atos violentos de 8 de janeiro, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco em defesa da democracia no País. “E, na mesma faculdade, temos um professor impedido de entrar. Esses valores que defendemos são valores para a sociedade. Na época, tivemos muito apoio do movimento estudantil. Agora, como podemos fazer dentro da nossa casa, jogar cadeiras, impedir pessoas de dar aulas?”

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Correções

Diferentemente do que foi informado inicialmente pela reitoria da USP, são 51 e não 52 unidades na instituição. Um primeira versão do texto foi publicada com 52

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