Não há dúvida que a pandemia, causada pela covid-19, alterou nosso estilo de vida. Mudamos a maneira de trabalhar e de estudar. Os muros da escola se alargaram. Uma das principais consequências da crise sanitária é a necessidade de revisão da forma como educamos nossas crianças e jovens. Com a volta às aulas presenciais, com parte da classe acompanhando o conteúdo online, o ensino híbrido virou a norma. O que muitos me perguntam é se isto será temporário ou não. Particularmente, acredito que esta tendência veio para ficar e o ensino híbrido, aprimorado, deve ser incorporado definitivamente na rotina escolar.
Precisamos assegurar a qualidade de ensino ofertado, já que boa parte das escolas implantou sistemas e formatos com pouco ou nenhum planejamento.
Há muitos pontos ainda a serem aprimorados, como uma melhor regulamentação deste ensino híbrido e dos ambientes virtuais ideais de aprendizado. As plataformas adaptativas, apoiadas por meio da inteligência artificial, serão, neste novo cenário disruptivo, importantes alinhadas para oferecer um ensino mais personalizado, especialmente na gestão de diferentes trilhas de aprendizagem e no monitoramento do desenvolvimento escolar dos estudantes.
É necessário encarar o ensino híbrido como uma oportunidade, e não como uma ameaça. Ele vai, por exemplo, nos permitir colocar em prática o conceito do aluno em tempo integral. Por meio dele poderemos estimular educandos a estudarem por meio de metodologias ativas, como projetos, resolução de problemas e jogos, para que aprendam e se desenvolvam de forma plena, indo além dos aspectos cognitivos, e potencializando suas habilidades e competências socioemocionais.
Em meio a esta grande mudança causada pela pandemia, precisamos urgentemente implantar o chamado Novo Ensino Médio.A escola de ensino médio que ainda está aí, em sua maioria, não dialoga com o projeto de vida dos jovens. Uma das consequências é que, mesmo antes da pandemia, em média, cerca de 500 mil jovens abandonavam esta última etapa da Educação Básica. A perda anual era da ordem de R$ 3,5 bilhões de reais, sem falar no custo social. Este novo ensino médio, mais flexível e diversificado, dialoga diretamente com os anseios da juventude, que deseja uma escola que caiba na vida. E nesse novo ambiente, temos ainda uma bússola para as aprendizagens essenciais que todos os estudantes precisam desenvolver ao longo de toda a Educação Básica, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Para que tudo que falamos até aqui se materialize, de fato, no ambiente escolar, é preciso preparar os professores para esses novos tempos. Nesse sentido, o país precisa colocar em prática a Base Nacional Comum da Formação Inicial e Continuada Docente recentemente aprovada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), e homologada pelo Ministério da Educação. Precisamos investir na formação dos professores com foco em três dimensões: conhecimento, prática e engajamento profissionais. Eles não serão substituídos pelas tecnologias, mas precisam acompanhar as mudanças, buscar a inovação e romper com o ensino tradicional. Se esta necessidade já existia, foi acentuada pela covid-19.
Os estudantes não querem mais só copiar o conteúdo da lousa e decorar as respostas dos livros. Eles querem mais autonomia e desafios. Em outras palavras, eles querem uma Educação que os preparem para a vida. No ensino híbrido, os docentes têm que enfrentar um novo ambiente, e as faculdades de educação também precisam mudar a base curricular para formar educadores mais preparados para essa nova realidade das salas de aula. O mundo mudou e não podemos desperdiçar essa oportunidade de, finalmente, virar o jogo na educação básica brasileira.
* Membro do Conselho da Mind Lab e titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP – Ribeirão Preto