Escolas infantis trocam o estudo pela brincadeira

Crianças passam mais tempo no parque e na biblioteca do que na sala de aula; proposta deve ser um dos eixos do novo currículo nacional

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Atualização:

Na maior parte do tempo que passam na escola, elas ficam no parquinho, no pátio, na biblioteca e na quadra. Em vez de assistir às aulas sentadas em carteiras, formam rodas no chão e aprendem correndo e passeando pelo ambiente escolar. Em algumas escolas de educação infantil de São Paulo, a brincadeira está presente em todas as atividades.

Escola Tarsila do Amaral prioriza as atividades ao ar livre. Foto:

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Esse tipo de proposta pedagógica segue a recomendação de especialistas em educação e saúde que defendem a brincadeira como fundamental e principal forma de desenvolvimento na infância. O modelo pedagógico também já adianta o que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) – documento que definirá o que as escolas devem ensinar em cada série – coloca como “eixo estruturante” para as aulas na educação infantil (crianças de 0 aos 6 anos): o brincar e as interações.

“A brincadeira ensina o tempo todo. O brincar é a forma como a criança se comunica, explora e conhece o mundo”, diz Tatiana Duarte, gestora pedagógica da Escola Eduque, na zona sul da capital. Na unidade, os professores mudam os recursos do parquinho toda semana para estimular a criatividade das crianças e dão preferência para brincadeiras tradicionais, como pega-pega e amarelinha.

“Essa é a fase de maior curiosidade e temos de aproveitar. Quando a criança brinca no parque, está em contato com conteúdos de Ciências, Matemática, Geografia. O professor aproveita esse momento para instigar o aprendizado formal e estimular habilidades sociais, emocionais e motoras”, afirma.

Apesar da importância da brincadeira ser um consenso entre especialistas, esse reconhecimento ainda não existe entre a maioria dos pais. Uma pesquisa encomendada pela marca OMO mostrou que 51% dos pais brasileiros consideram os trabalhos escolares mais importantes do que o brincar para o sucesso das crianças. O levantamento foi feito com 12 mil pessoas em dez países, entre 2016 e 2017.

Por isso, Maria Veima de Almeida, diretora da escola Tarsila do Amaral, no Tucuruvi, zona norte da capital, diz começar as reuniões de pais sempre com brincadeiras ao ar livre. “Aqui, deixamos bem claro para os pais que o brincar é essencial na educação. As crianças não sentam para fazer pontilhado de números, repetição das letras ou decorar cores. Elas vão para o parque e lá contam as folhas da árvore que caíram no chão, aprendem que as flores têm tonalidades diferentes.”

Estímulo. Para especialistas, escolas com proposta pedagógica mais tradicional também precisam ter aulas com abordagem lúdica e espaço para brincadeiras. Apesar de definir o brincar como um dos eixos dessa etapa, a BNCC prevê que o processo de alfabetização se inicie já na educação infantil. Segundo a base, até 5 anos e 11 meses, os alunos devem, por exemplo, ser capazes de fazer “registros de palavras e textos, por meio da escrita espontânea”.

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Segundo o psicólogo e membro do Núcleo da Ciência pela Infância (NCPI) Lino de Macedo, o brincar ao ar livre e com outras pessoas é fundamental e precisa ser estimulado na escola, já que as crianças têm cada vez menos essa possibilidade em casa. “Antes era natural a brincadeira na rua, com vizinhos, irmãos, primos. Hoje, não é. Por isso, a escola precisa preencher essa lacuna para um bom desenvolvimento dos alunos.”

 E não é o que ocorre na maioria das escolas brasileiras. Segundo o Censo Escolar 2016, 41,3% das creches brasileiras não têm parquinho. O porcentual é ainda maior (58,4%) nas unidades com pré-escola (alunos de 4 e 5 anos). “É preocupante que isso ocorra, já que as crianças têm de passar mais tempo na escola (desde 2016, a matrícula a partir dos 4 anos é obrigatória), então ela (a escola) deveria ser mais lúdica, mais convidativa”, disse o psicólogo Mauro Luís Vieira, da UFSC.

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