SÃO PAULO - “Quando cheguei à Fundação Casa, pensei: é isto. Esta vai ser a minha vida”, contou Jonathan Felipe da Silva Santos, hoje com 18 anos e destaque da Feira de Ciências da Secretaria da Educação de São Paulo. Foi nas aulas de Química, dentro da fundação, que Santos desenvolveu um projeto de ciências e descobriu que sua vida poderia ser diferente.
Com a orientação da professora de Química, Santos montou um corretor para a acidez do solo com resíduos de giz de lousa. O projeto ficou entre os seis finalistas de toda a rede estadual de ensino de São Paulo e ele ganhou o prêmio de aluno revelação. “Eu sempre gostei de ciências. Via um programa de experimentos na TV quando era menor e adorava. Mas, na escola, eu não prestava atenção nas aulas. Foi só na fundação que pude entender mesmo o que era e até fazer algumas experiências.”
A professora Andrea Chiarioni trabalha na Fundação Casa há três anos e disse que, apesar de ter menos recursos para dar aulas – por exemplo, os alunos não têm acesso à internet –, o número reduzido de estudantes por turma facilita o trabalho. “Eu sei quais são as ambições, os medos, as dificuldades de cada um. Com o Jonathan, logo de cara percebi que ele tinha muito interesse por Química, fazia perguntas elaboradas. E eu fui incentivando.”
Ela contou que o projeto surgiu da curiosidade do estudante. “Eu disse que o giz tinha propriedades que poderiam corrigir o solo e ele perguntou se poderíamos tentar (fazer um experimento em sala)”, disse a professora.
Fora da fundação há três meses, Santos voltou a estudar em sua antiga escola estadual, em Araçatuba, no interior de São Paulo, e continua focado no projeto científico. “Ainda estamos aperfeiçoando o trabalho. Por isso, sempre me encontro com a professora Andrea. Ela me deu o empurrão que eu precisava e não vou perder essa chance”, afirmou o estudante.
Ele está no 2.º ano do ensino médio e quer cursar Medicina Veterinária. “Antes, o máximo que pensava para mim era terminar a escola e conseguir qualquer emprego. Agora, só penso em continuar estudando, porque vi que é legal.”
Social. Foi também com um projeto científico que duas alunas do 3.º ano do ensino médio do Colégio Lourenço Castanho, em Moema, na zona sul da capital paulista, encontraram uma forma de dar uma contribuição social para comunidades carentes. Mirela de Oliveira e Gabriela Fernandes, ambas de 17 anos, têm bolsa no colégio pelo programa Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos (Ismart), que identifica jovens de baixa renda de 14 e 15 anos e concede bolsas em colégios de elite.
Para o trabalho de monografia que é cobrado pelo colégio, elas decidiram estudar a verticalização e a precarização das moradias na Favela de Paraisópolis, na capital, e criaram um índice que torna possível prever a ocorrência de um adensamento futuro em áreas de verticalização precária. “Como tivemos essa oportunidade de mudar nossas vidas, estudando em uma boa escola, queríamos fazer um trabalho que pudesse ajudar outras pessoas. Nosso conhecimento não deve beneficiar só nós mesmas”, afirmou Mirela.
O trabalho ficou em primeiro lugar na categoria de Ciências Sociais Aplicadas da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) deste ano. “Temos uma visão de mundo diferente dos nossos colegas. Nossa origem é muito diferente e transitamos entre dois mundos, o que nascemos e este novo em que penetramos com a bolsa. Queríamos dar uma contribuição para aquele mundo da nossa origem”, disse Gabriela.
Ednilson Quarenta, professor de História que orientou o trabalho das alunas, observa que “não adianta impor algo ao adolescente”. “Se ele fizer o que gosta, o aprendizado será muito mais significativo. O trabalho delas, por exemplo, é muito autoral, mostra o olhar crítico e o repertório que têm sobre a cidade.”