Ao iniciar o ensino superior, o estudante se depara com novos conteúdos e também com velhos fantasmas. Aquele conceito de português que não foi aprendido ou a fórmula de matemática esquecida podem fazer falta na nova etapa do processo de aprendizagem. Esse déficit muitas vezes resulta em reprovações no primeiro período da faculdade e pode acarretar até em desistência.
Para atacar essas deficiências, as universidades lançam mão de diversas estratégias. Os centros universitários UNA e UniBH, em Belo Horizonte (MG), e a Unimonte, em Santos (SP), os três do grupo Anima Educação, adotaram uma plataforma online que utiliza a lógica de jogos para ajudar os estudantes.
A ferramenta, desenvolvida pela Geekie, empresa de tecnologia aplicada à educação, é personalizada e varia de acordo com o curso para reduzir as deficiências que cada estudante carrega do ensino médio. Chamada de Adapti, ela foi usada pela primeira vez neste semestre, com os 12 mil ingressantes das três faculdades.
O resultado foi um aumento de 30% nas notas dos alunos que se dedicaram por pelo menos quatro horas semanais durante seis semanas - tempo considerado mínimo para dominar os conteúdos considerados deficitários.
Reforço individualizado. O diretor acadêmico da Anima Educação, Anderson Ceolin Soares, afirma que a ideia de utilizar a plataforma surgiu diante da deficiência de aprendizagem dos alunos que ingressam na instituição. “Queríamos um reforço de conteúdo, com linguagem leve e que fosse individualizado, pois os déficits são únicos e os conteúdos devem ser direcionados.”
Soares crê que a aquisição de conteúdos do ensino médio terá reflexos na retenção dos alunos - no primeiro semestre, cerca de 20% dos estudantes desistem do curso. “Com a alta do desempenho e do engajamento, esperamos reduzir a taxa.”
A aluna de Administração da Unimonte Ticiane Baptista Santos, de 26 anos, que terminou o ensino médio nove anos antes de ingressar na faculdade, reviu conteúdos de português e matemática. “Algumas coisas tinha esquecido, outras aprendi pela primeira vez. Isso facilitou meu entendimento das disciplinas da faculdade.”
Já a cozinheira Raquel Silva, de 46 anos, não imaginava que no curso de Gastronomia precisaria tanto dos conceitos de matemática do ensino médio, concluído há quatro anos. “Usamos bastante regra de três e cálculos de valor líquido e bruto dos alimentos para fazer as fichas técnicas (dos pratos). Relembrar isso foi essencial para que eu conseguisse dar conta das disciplinas”, diz.
Como funciona:
1. O aluno acessa a plataforma e é submetido a uma avaliação sobre o conteúdo do ensino médio
2. Cada estudante recebe um plano de estudos desenvolvido para sanar suas deficiências
3. O aluno estuda com esse plano personalizado. Professores e gestores acompanham a evolução do estudante em tempo real
Educação básica. O primeiro colégio brasileiro a modificar o projeto pedagógico para apostar em tecnologia e ensino adaptado foi a Escola Municipal André Urani, localizada na Favela da Rocinha, no Rio.
Só de olhar já dá para perceber que a escola é diferente. Não há paredes dividindo salas de aula nem separação dos alunos por faixa etária. Em grupos de seis pessoas, os estudantes trabalham cada um com seu computador.
Mas a revolução não está aí. O que faz o colégio diferente são as ferramentas digitais que possibilitam ao aluno seguir seu ritmo e ao professor acompanhar o que cada um está aprendendo. Cada estudante segue um itinerário formativo individual, que reúne o que ele precisa aprender. Há opções de exercícios, e o próprio aluno decide o que fará.
Semanalmente, todos são avaliados na Máquina de Testes, que registra os níveis alcançados e a evolução individual. Se o resultado esperado não for alcançado, o aluno recebe atenção individualizada.
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