Atualizada às 09h39 de 21/12/2015
SÃO PAULO - Os grêmios estudantis das escolas estaduais começaram a ser reformulados neste ano em São Paulo, para que possam ampliar sua capacidade de atuação. Após sugestão do Ministério Público Estadual (MPE), a Secretaria Estadual da Educação (SEE) mapeouos grêmios do Estado. A pasta decidiu ainda ser mais ativa na construção desses grupos, passando a responsabilidade da estrutura à Coordenadoria de Gestão da Educação Básica (CGEB).
A ideia é reforçar o funcionamento dos grupos, após constatação do MPE de que os grêmios não funcionavam como deveriam e não tinham participação efetiva nas decisões nas escolas.
“Acompanhamos, em inquéritos civis, que há falta de grêmios estudantis nas escolas e, mesmo quando eles existem, não exercem a participação, a eleição democrática. Diante disso, solicitamos um diagnóstico da secretaria para aperfeiçoar a estrutura”, disse o promotor João Paulo Faustinoni, do Grupo de Atuação Especial de Educação (Geduc). Após a pesquisa, a SEE constatou que há 3,4 mil colégios com grêmios na rede, mas nem todos atuantes e com eleições.
Além da pesquisa, que ouviu as 5 mil escolas da rede entre maio e junho, a pasta organizou encontros com os grêmios já existentes e diretorias nas escolas. A estratégia é preparar professores e coordenadores para que auxiliem os alunos e garantam as eleições anuais nos grêmios. “Queremos que os alunos entendam que o grêmio não é o espaço que o diretor da escola dá se tiver. É um espaço de direito, que existe na legislação. Faz parte do projeto pedagógico da escola”, diz a responsável pela articulação com os grêmios na SEE, Sônia Maria Brancaglion.
Ela cita o exemplo de São Carlos, no interior de São Paulo, onde todas as escolas estaduais têm grêmio e as eleições são feitas por meio de urna eletrônica. "Uma gestão participativa mais forte cria uma relação muito importante com a comunidade, alunos, professores e família. A escola fica mais calma", disse.
Segundo ela, um levantamento do MPE com a pasta constatou que as escolas com maiores índices de violência não têm gestão participativa.
Pontapé. A escola Augusto de Oliveira Jordão, em Diadema, na Grande São Paulo, é uma das que entrarão nesta nova fase dos grêmios. As principais bandeiras do grupo Força Jovem, nome dado pelos alunos, serão a conscientização contra o uso de drogas e o bullying. Os planos para 2016 já começaram. “Pensamos em trazer artistas reconhecidos e que tiveram envolvimento com drogas para falar com os alunos”, explica o presidente do grêmio Rodrigo Prado, de 16 anos.
De acordo com ele, um dos principais problemas da escola são brigas entre alunos e desentendimentos com a coordenação. “Começamos a ouvir os dois lados, tentar o diálogo entre eles para minimizar esses problemas”, disse Prado.
Independentes. Sem um acompanhamento claro dos grêmios, muitos grupos foram criados de maneira independente, apoiados por entidades estudantis, como a União Municipal dos Estudantes Secundaristas (Umes). Durante a reorganização promovida pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB), parte desses grupos tomou a frente das 196 ocupações dos colégios estaduais. Isso levou o governo estadual a acusar o protesto de político-partidário, já que entidades como a Umes têm ligações com o PCdoB e outros partidos.
Na Escola Brigadeiro Gavião Peixoto, em Perus, zona norte da capital, o grêmio não só liderou a ocupação durante 30 dias, como também tem reclamado da infraestrutura.“Estávamos há dois anos sem nenhum grêmio, então decidimos montá-lo. Organizamos debates, campeonatos e até mutirões de limpeza na escola”, disse a presidente do grupo, Vanessa Alves, de 16 anos.
Vanessa foi uma das porta vozes do colégio durante os quase 30 dias em que a unidade ficou ocupada. Durante a vistoria da secretaria, quando a escola foi devolvida, ela aproveitou o momento para criticar a falta de manutenção do prédio escolar. “Essa sala está sem porta, mas não fomos nós não. Já estava assim como chegamos”, disse ela a um funcionário da diretoria de ensino. A pasta garante que toda a unidade passará por manutenção.
Na escola Astrogildo Arruda, Vila Carolina, na zona leste de São Paulo, o grêmio também deu o tom da ocupação e dos protestos de rua. "Queríamos ter voz naquilo que é decidido", disse o presidente da entidade, Bismarck Lucas, de 17 anos, do 3º ano do ensino médio. Durante a ocupação ficaram cerca de 50 alunos no interior do colégio. "Termos um grêmio facilitou, porque desde o começo temos uma responsabilidade a mais pela escola", disse ele.