Reforma do Ensino Médio exige atenção para evitar aumento das desigualdades

Em uma sociedade desigual como a nossa, políticas educacionais devem se pautar pela democratização do direito à educação e pela busca de equidade. No caso do Ensino Médio, uma adequada política deve, portanto, buscar garantir que todos os alunos possam ter as mesmas possibilidades de desenvolvimento pessoal, de inserção no mercado de trabalho e de acesso ao Ensino Superior, independentemente de estudarem em tempo de integral ou parcial, ou em turmas do diurno ou noturno.

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Por Anna Helena Altenfelder
Atualização:

Garantir a democratização do direito à educação e a equidade é um grande desafio. A nova legislação do ensino médio, porém, contém medidas que podem dificultar avanços nessa direção. Uma delas é a implementação paulatina de escolas de tempo integral. Sabemos – e pesquisas mostram isto – que escolas desse tipo oferecem uma educação de maior qualidade. Elas não podem, no entanto, ser privilégio de alguns. Infelizmente, a legislação corre o risco de favorecer a criação de, “ilhas de excelência”, frequentadas pelos estudantes com melhor desempenho acadêmico, resultante sobretudo de seu nível socioeconômico. A pesquisa sociológica e educacional vem desde os 1960 mostrando essa relação entre desempenho e origem social. Pesquisa recente do Cenpec sobre escolas de tempo integral no Ensino Médio evidencia essa relação.

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Outra medida que pode dificultar avanços em direção a uma escola mais justa é ligada à flexibilização do currículo. A princípio, trata-se de uma medida bem-vinda, que possibilita uma articulação entre os interesses dos estudantes, seu projeto de vida e o currículo. Entretanto, como o texto aprovado não prevê a obrigatoriedade da oferta de todos os percursos formativos pelas escolas e a possibilidade de escolha poderá não se concretizar para uma parcela importante de nossos estudantes.

Essa limitação deverá ser mais acentuada nos menores municípios. Embora a legislação preveja que percursos formativos possam ser ofertados em parceria com outras instituições, nesses municípios, é menor o número de escolas, bem como são mais restritas as possibilidades de parcerias.É preciso lembrar que Brasil tem quase 1 milhão de alunos do Ensino Médio em municípios de até 20 mil habitantes.

*é presidente do Conselho de Administração do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária – Cenpec

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Leia a série de reportagens sobre a reforma no ensino médio:

 1: Cidades pequenas, falta de estrutura e recursos desafiam novo ensino médio

2: Ampliar apoio financeiro e técnico às escolas é fundamental, segundo especialistas

3: Em cidades com só 1 escola, sonho de oferecer 5 ‘futuros’ vira pesadelo

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4: Em cidade no interior de SP, docentes cobram reforma física

5: Secretários já cogitam ampliar período do ensino noturno e enviar alunos para cidades vizinhas

6: Ministro Mendonça Filho quer 'liberdade' para Estados definirem a reforma que farão

7: Sem dinheiro, Estado de MG tem 2 mil escolas na fila por reforma física

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8: ANÁLISE: Reforma exige atenção para evitar aumento das desigualdades

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