SÃO PAULO - Informações sigilosas sobre o comportamento de estudantes do Colégio Bandeirantes, uma das escolas mais tradicionais de São Paulo, vazaram na internet. Imagens com relatórios internos, feitos por professores entre 2007 e 2012, estavam sendo divulgadas em grupos de WhatsApp, como revelou o jornal Folha de S. Paulo nesta quinta-feira, 19. A mensalidade na instituição para o ensino médio custa por volta de R$ 3 mil.
Os relatórios continham informações confidenciais sobre o desenvolvimento acadêmico, perfil emocional e momento de vida dos estudantes."Ele tem um comportamento estranho, cara amarrada", diz um dos trechos sobre um aluno. "Decaiu muito.Disse que só quer saber dos meninos e se apaixonou", aparece em outro relato.
Há ainda casos mais graves, com dados íntimos dos estudantes. "Ele é inadequado em relação ao comportamento sexual. Fala coisas inadequadas para as meninas." "Entrou em depressão no início de 2007", diz outro texto.
O colégio suspendeu um estudante do último ano do ensino médio que teria sido o responsável pelos vazamentos. "O Colégio Bandeirantes esclarece que na última semana um aluno teve acesso irregular a atas de reuniões de série da instituição, realizadas de 2007 a 2012 entre professores e equipe de orientação educacional", informa nota da instituição. Inicialmente, a punição seria de oito dias e impediria o aluno de realizar um simulado no próximo sábado - o que afetaria o seu desempenho. Mas,após manifestação dos alunos, que discordaram da punição e solicitaram ao colégio desculpas formais, a suspensão foi reduzida a quatro dias. O colégio também vai
O Bandeirantes afirmou ainda que tomou providências jurídicas para suspender o compartilhamento de vídeos que esse aluno teria produzido, para proteger os estudantes e familiares.
Relatos dados até por ex-alunos apontam que "qualquer um" que tivesse senha para acesso ao sistema interno do colégio (disponível aos estudantes) conseguiria pesquisar as informações. Segundo uma ex-estudante, era possível encontrar os relatórios buscando o nome do aluno em um mecanismo de busca comum.
Punições. Para o especialista em direito digital, Renato Opice Blum, tanto os pais do estudante quanto a instituição podem ser penalizados pelos vazamentos, com possíveis indenizações ao envolvidos. "Caberia ao colégio proteger esses dados. Podem ter ocorrido duas situações: ou alguém tomou uma ação indevida, seja por uma invasão ou um vazamento por algum funcionário que tinha acesso - ou houve vulnerabilidade do sistema".
Ele ressalta que, como nenhum sistema é completamente invulnerável, a instituição deveria ficar alerta em relação à forma como os relatórios foram feitos. "Será que esta avaliação precisa ser feita dessa forma? Será que o professor deve avaliar o aluno de forma pormenorizada, com adjetivos que podem machucar o aluno?", disse.
Para Blum, ainda é cedo para admitir culpados, mas deve haver responsabilização. "Vamos admitir que houve investigação e esse aluno realmente teve acesso aos dados e os divulgou. Todas as pessoas que tiveram suas informações expostas e foram prejudicadas poderão entrar com processo - e provavelmente vão ganhar, seja contra os pais, ou com a escola".
"Hoje estamos em uma sociedade da informação, com tudo digitalizado, fotos, vídeos, e as pessoas ainda não têm essa cultura de cuidar disso, de proteger. E nem da consequência da divulgação dessas informações", apontou o especialista em direito e tecnologia, Hélio Morais."Se de alguma maneira a escola foi negligente em relação às medidas de proteção dos dados, ela também é responsável".