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A escola do seu filho tem ar-condicionado? É arejada? Calor pode afetar até a aprendizagem

Mesmo entre escolas particulares o índice é baixíssimo na capital; no Brasil, 33% das salas de aulas são climatizadas

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Foto do author Renata Cafardo
Atualização:

A cidade de São Paulo bateu mais um recorde de calor esta semana, na escola do seu filho tem ar-condicionado ou boa ventilação? A cidade mais rica do País, com as mensalidades mais altas da rede privada, só tem 3,6% das salas de aula de escolas particulares são climatizadas.

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O ar-condicionado polui e está longe de ser a solução perfeita em tempos de aquecimento global, mas tem sido a saída imediata para impedir os prejuízos de aprendizagem causados pelo calor excessivo.

Entre as escolas estaduais e municipais da capital, a situação é pior ainda. Do total de 34 mil salas de aula, só 223 têm ar-condicionado na cidade (0,6%). No Estado, o índice é de 12% entre as particulares e 2% entre as escolas estaduais.

Os dados são do Ministério da Educação (MEC) e foram tabulados pelo Centro de Inovação para a Excelência em Políticas Públicas (CIEPP). São Paulo é a cidade com os piores índices de climatização de salas do País; Manaus é a melhor.

Cidade bateu recorde de temperatura nesta semana Foto: Daniel Teixeira/Estadão

No Brasil, 33% do total de salas de aula tem ar-condicionado, um número puxado para cima pelos Estados do Norte e Nordeste, mais acostumados com o calor excessivo.

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Mas pesquisadores e organismos internacionais, como a Unesco, têm alertado que escolas do mundo todo precisam estar atentas à estrutura por causa dos eventos extremos do clima. E isso não quer dizer que ar condicionado seja a única forma de resolver o problema.

Os aparelhos mais comuns atualmente são uma opção cara, aumentam a demanda por eletricidade e ainda enviam gases para a atmosfera que contribuem justamente para o aquecimento global.

A Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava) afirma que tem trabalhado para encontrar soluções que promovam a redução do impacto ambiental e que eventual poluição dos aparelhos ocorre somente quando há “imperícia durante atividades de manuseio ou manutenção do equipamento ou acidentes que danifiquem algum dos diversos componentes”.

Enquanto cientistas do mundo todo trabalham para criar aparelhos de ar condicionado mais eficazes e menos poluidores, o que especialistas defendem é que se dê atenção para o espaço da escola, algo pouco feito no Brasil - que teve por muito tempo escolas de lata.

O investimento na educação deveria também ir para formas sustentáveis de ventilação natural, que incluem uso de árvores e outras vegetações, projetos arquitetônicos com materiais que tornam o ambiente mais frio, com melhor posicionamento de janelas, salas mais amplas, telhados verdes.

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Os dados do MEC não indicam quantas dessa maioria de escolas sem ar condicionado são arejadas de forma a não serem impactadas pelo calor extremo, mas é difícil acreditar que sejam muitas.

A certeza é a de que a temperatura - além de ruídos, iluminação, umidade - interfere muito na aprendizagem das crianças e adolescentes.

Pesquisa realizada na Costa Rica mostrou que estudantes de 11 anos em salas com ar-condicionado se saíram melhor em testes de linguagem e lógica do que outros que estavam em locais só com ventiladores.

A temperatura nas salas climatizadas onde os resultados foram melhores baixou de 30ºC para 25ºC. A mudança no clima ajudou especialmente crianças com mais dificuldade de aprendizagem.

Outro estudo realizado na China também mostrou que o desconforto térmico causado por temperaturas altas ou baixas teve impacto negativo no desempenho dos alunos.

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E uma pesquisa de estudiosos brasileiros ressalta a importância, diante do aumento da temperatura global, de os editais públicos não só priorizarem o ar condicionado como solução para resfriar escolas.

Neste mês, a Justiça impediu a volta às aulas no Rio Grande do Sul porque as temperaturas chegariam a 43 graus, em um Estado que já teve um longo período de paralisação das escolas por causa das chuvas. No Estado, 18% das escolas estaduais têm ar condicionado.

O aquecimento global já impacta a educação hoje e agora. Não há mais como enfrentar a crise de aprendizagem no País ignorando a crise climática.

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