Uma das áreas mais estratégicas para o desenvolvimento do País está parada por brigas que ninguém consegue entender. A semana passada acabou com sete demitidos no Ministério da Educação (MEC) e a indefinição de quantas horas mais Ricardo Vélez Rodríguez permanece no cargo.
No meio da crise, um ministro enfraquecido e desconhecido foi ao velório de alunos e funcionários da Escola Estadual Professor Raul Brasil, devastada pelo massacre ocorrido no dia anterior. Deu condolências aos familiares das vítimas, conversou com sobreviventes. No fim do mesmo dia, de volta ao seu gabinete, trocou pela terceira vez de secretário executivo, segundo cargo mais importante da pasta.
O Brasil tem 40 milhões de estudantes, em milhares de escolas que sequer sabem o nome de Ricardo Vélez Rodríguez. Mas talvez não recebam os livros didáticos destinados ao ensino médio daqui a algum tempo porque o colombiano se enrolou tanto que o edital para compra sequer existe. Era para ter sido publicado em janeiro.
Não há também portaria ainda que diga como será o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) este ano, que deveria avaliar pela primeira vez a alfabetização das crianças do 2.º ano. A prova costuma ocorrer em outubro, mas há diversas providências que precisam ser tomadas muito antes.
Pela primeira vez também, conforme determinado na gestão passada, alunos do 9.º ano fariam testes de Ciências da Natureza e de Ciências Humanas, além de Português e Matemática. Fora a inédita avaliação de educação infantil, também prevista este ano. Nada se sabe sobre como vão ser executadas essas políticas. Recentemente, em um evento sobre o Saeb para secretários municipais, o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep) do MEC não mandou representante.
Também não se tem notícias do que vai acontecer com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), uma das políticas educacionais mais importantes dos últimos anos. Os Estados esperam uma resposta do MEC sobre a ajuda financeira que era dada para elaboração e implementação de novos currículos. Afinal, o MEC faz as políticas, mas não tem escola. Quem lida com o professor, com o aluno, com o pai são os Estados e municípios. E quase sempre não há dinheiro nem expertise para fazer as leis saírem do papel.
Até as ideias polêmicas já ventiladas estão paradas. A criação de uma comissão que faria uma espécie de averiguação nas questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) estacionou no meio do fogo cruzado. E quem vai querer se responsabilizar por algo, no mínimo, complicado, se não há garantia de que estará lá no dia seguinte?
Educadores experientes em gestão pública dizem que nunca viram situação igual. Ao longo de míseros dois meses e meio, grupos que nem se conheciam foram colocados para trabalhar juntos e instauraram uma guerra.
Seguidores do filósofo Olavo de Carvalho passaram a não tolerar os colegas de perfil técnico, que insistiam em tirar a pecha de ideólogo que havia colado no ministro. “Olavistas”, por sua vez, acusaram o grupo de querer transformar o ministério em um ambiente “tucano”. Ambos os grupos tiveram baixas na última semana, em meio a palavrões no Twitter.
Por fora, correm os militares do MEC, que aproveitaram a batalha entre os dois inimigos para tentar emplacar um substituto a Vélez. Com o cargo quase vago, a bancada evangélica também luta para indicar o próximo ministro – o fato de já haver alguns evangélicos na pasta é apenas uma coincidência. Confuso, não? O que é fácil de entender é que em um País tão carente de uma revolução no ensino, a educação virou piada.
* É REPÓRTER ESPECIAL DO ESTADO E FUNDADORA DA ASSOCIAÇÃO DE JORNALISTAS DE EDUCAÇÃO (JEDUCA)
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