SÃO PAULO - O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro João Otávio de Noronha, atendeu ao pedido do governo federal e liberou que seja continuado o processo do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), ou seja, que os resultados dos candidatos aprovados seja divulgado. A divulgação do sistema foi barrada pela Justiça Federal na sexta-feira, 24, até que o Ministério da Educação (MEC) comprovasse documentalmente que corrigiu todas as falhas nas notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
O resultado do Sisu foi divulgado na noite desta terça-feira. Inicialmente, a divulgação dos aprovados em primeira chamada do Sisu estava marcada para esta terça-feira, 28. O Programa Universidade para Todos (Prouni), que concede bolsas em universidades privadas e que iniciaria as inscrições nesta terça-feira, também teve o cronograma suspenso pelo ministério.

A divulgação do Sisu foi suspensa após um pedido da Defensoria Pública da União para que o MEC e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) comprovassem "documentalmente" que a revisão das notas, nas quais foram identificadas falhas, foram consideradas para readequação das correção de todos os 3,9 milhões de candidatos. A Justiça Federal em São Paulo atendeu ao pedido na sexta e a Advocacia-Geral da União (AGU) recorreu da decisão no sábado, 25.
No entanto, no domingo, 26, a presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), desembargadora Therezinha Cazerta, rejeitou o pedido da AGU para derrubar a decisão que suspendeu a divulgação do Sisu. Para ela, os entendimentos da Justiça Federal de São Paulo "nada mais fizeram do que proteger o direito individual dos candidatos do Enem a obterem, da administração pública, um posicionamento seguro e transparente a respeito da prova que fizeram".
O principal argumento do MEC para reverter a decisão de suspensão do Sisu era de que, ao barrar o andamento do sistema, corria risco de "graves prejuízos à política pública de ensino superior". O presidente do STJ disse, em sua decisão, ser "inegável" os impactos da suspensão por "impedir a organização e a concretização do calendário acadêmico, bem como a formação de turmas; se perdurar, pode até mesmo impactar o ano universitário."
Noronha também disse que a suspensão trazia "dano grave, manifesto e de enorme potencialidade lesiva". "Já são milhares os estudantes apreensivos, sem saber para qual curso foram selecionados e em qual instituição de ensino ingressarão. Suas famílias, obviamente, também estão ansiosas sem saber para onde seus filhos irão", disse na decisão.
'Falta de diálogo'
O presidente do STJ defendeu que o pedido feito pela Defensoria Pública da União e aceito pela Justiça Federal foi de "natureza política". Para ele, falou diálogo já que, segundo Noronha, a DPU "supõe (ou teme) que os estudantes possam ter sido prejudicados, seja porque os que reclamaram das notas não tiveram seus pleitos respondidos, seja porque a revisão das provas pode ter impactado a valoração das questões de acordo com a teoria da resposta ao item (TRI)."
"O MEC e o INEP, pelo que se depreende, pecaram pela deficiente comunicação com a sociedade em geral e, em específico, com os órgãos encarregados da defesa dos interesses difusos e coletivos (MPF e DPU)", conclui. Para ele, esse erro de comunicação não é suficiente para justificar a paralisação de todo o processo do Sisu. "Se erros pontuais e individuais houve, certamente que devem ser sanados pelas vias próprias", disse.
"Vê-se que nada de errado ou lesivo aos estudantes que se supõe tenha ocorrido, de fato, ocorreu", defendeu Noronha.