Ouça os comentários diários da colunista do Estadão para o Jornal Eldorado.
Acompanhe também em:
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, admitiu nesta quinta-feira, 28, que o governo federal pode ser obrigado a adotar novas medidas de ajuste fiscal para controlar as contas públicas. Haddad afirmou que “certamente vai haver necessidade” e que voltará ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, caso seja necessário. "O mercado reage muito mal ao pacote porque interpreta a decisão como política, politiqueira ou até populista. O pacote está sendo estudado há mais de um ano e o papel de Haddad é manter a previsão de equilíbrio fiscal, mas no Palácio do Planalto, o presidente Lula tem uma cabeça política. A isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil é uma decisão populista por atingir a classe média - resistente à candidatura do presidente em 2022 e que segue resistente a Lula, então ele quis fazer um agrado e ampliar sua faixa de apoio", afirma Cantanhêde.
De acordo com a coluna de Eliane Cantanhêde no Estadão, em reunião no sábado, o ministro da Defesa, José Múcio e os comandantes do Exército, general Tomás Paiva, da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Damasceno, e da Marinha, almirante Marcos Olsen, disseram ao presidente Lula que as Forças Armadas estão solidárias com o pacote, mas argumentaram a favor de um alívio, particularmente, na criação da idade mínima para a passagem dos militares para a reserva remunerada. "As Forças Armadas não estão passando por seu melhor momento. Querem escapar de um corte de gastos que atinge a todos. É uma tentativa de negociação com o presidente Lula e a gente não sabe a resposta, mas foi uma conversa amena", diz Eliane.
Eliane Cantanhêde entrevista Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais do governo Lula, sobre o pacote de cortes federais anunciado nesta quinta-feira, 28, pelo ministro da fazenda, Fernando Haddad.
O ministro do STF Alexandre de Moraes tornou público nesta terça-feira o inquérito sobre a tentativa de golpe de estado no fim de 2022. Um dos principais documentos do inquérito é o relatório de quase 900 páginas da Polícia Federal sobre o caso. Segundo a PF, a investigação mostrou que o ex-presidente Jair Bolsonaro planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um Golpe de Estado e da Abolição do Estado Democrático de Direito, fato que não se consumou em razão de circunstâncias alheias à sua vontade.
Bolsonaro é citado 643 vezes no inquérito da Polícia Federal. "esse golpe começou 40 anos atrás na cabeça de Bolsonaro, quando ele era um jovem oficial, até ele chegar à Presidência. Ele passou os quatro anos de mandato arregimentando apoio para o golpe", afirma Cantanhêde.
Os áudios encontrados no celular do general de brigada Mário Fernandes mostram que os militares sugeriram ao ex-presidente da Jair Bolsonaro o retorno do general Braga Netto ao Ministério da Defesa.Segundo o ex-secretário executivo da Presidência da República, esta seria uma estratégia para concretizar a ruptura democrática. A mudança serviria para que Bolsonaro tivesse “um apoio mais efetivo” no golpe, em contraposição à conduta do alto comando do Exército de não embarcar no golpe. A ideia de recolocar Braga Netto no Ministério da Defesa, no apagar das luzes do governo Bolsonaro, foi citada por Fernandes em uma conversa com Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro. Fernandes tentou pressionar o general Luis Eduardo Ramos para que ele desse uma forçada de barra com o alto comando e blindasse o presidente contra qualquer desestímulo ao golpe. Ramos não respondeu às demandas de Fernandes "o general Ramos foi escanteado e se sentiu atropelado por um trem com o plano do golpe", afirma Cantanhêde.
O ministro do STF Alexandre de Moraes deve mandar entre hoje e amanhã o relatório do inquérito do golpe ao Procurador-Geral da República, Paulo Gonet. O relatório de mais de 800 páginas foi elaborado pela PF com a descrição da tentativa de golpe de Estado. Paulo Gonet tem três alternativas a partir da análise das provas reunidas pelos agentes federais: denunciar os indiciados, arquivar o caso ou solicitar novas diligências. A lei estabelece que Gonet tem 15 dias para se manifestar sobre o relatório da PF, mas não há prazo legal para que ele decida sobre a apresentação de denúncia contra os indiciados. A expectativa é que as denúncias só devem ocorrer em 2025, com a junção dos casos sobre fraude em cartões de vacinas e desvios de joias da Presidência à análise da tentativa de golpe. Até lá, o procurador-geral contará com uma equipe dedicada exclusivamente a destrinchar os achados dos agentes federais.
O Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos é composto por nove procuradores. "o procurador-geral, agora, não é mais Augusto Aras. O procurador agora não é engavetador não", afirma Cantanhêde.