Infertilidade masculina ainda é tabu e precisa ser investigada, afirma especialista

Proporcionalmente, homens são tão responsáveis quanto mulheres pela dificuldade em engravidar

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Por Luiza Pollo
3 min de leitura
Estilo de vida pouco saudável é responsável por diversos casos de infertilidade masculina. Mudanças nos hábitos podem começar a fazer efeito para os espermatozóides a partir de três meses. Foto: Pixabay

Quando o casal decide ter um filho, o mais comum é que a mulher vá ao ginecologista para receber orientações sobre a pausa nos métodos contraceptivos e dicas sobre os hábitos que podem ajudar na fertilização. Giuliano Bedoschi, especialista em reprodução humana, confirma que a participação do homem no processo de preparação para a gravidez costuma ser menor, mesmo quando o casal percebe dificuldade de engravidar. “A mulher para de beber durante a gravidez, mas tem marido que vai acompanhar o ultrassom e fica fumando lá fora”, lamenta o médico. “Infelizmente ainda é bastante comum atender pacientes sozinhas”.

O assunto é tabu entre muitos homens, apesar de eles serem os responsáveis em 30% a 40% dos casais que têm dificuldade para engravidar. Besochi informa que a infertilidade feminina é responsável por outros 30% a 40% dos casos de casais que procuram ajuda especializada e, nos restantes, os dois apresentam questões que impedem a gravidez. Ir ao médico junto com a mulher ou mesmo marcar uma consulta sozinho com um urologista pode ajudar a melhorar esse quadro, explica o especialista.

“Entre os fatores que podemos listar como causadores da infertilidade, principalmente nos últimos anos, estão o estresse, a poluição e os vilões de sempre: a obesidade, o álcool e o tabagismo.” Bedoschi explica que, em alguns casos, é preciso apenas três meses para que a mudança desses hábitos tenha efeito na taxa de fertilidade.

Mesmo assim, vale ressaltar que manter um estilo de vida saudável durante toda a vida tem efeitos mais garantidos. Um estudo publicado em julho deste ano na Human Reproduction Update, revista da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, aponta que a concentração de espermatozoides caiu de 50% a 60% em um intervalo de menos de 40 anos (entre 1973 e 2011) nos homens da América do Norte, Europa, Austrália e Nova Zelândia, onde o estudo foi conduzido. Obesidade, sedentarismo, tabagismo e consumo de álcool estão entre as possíveis causas da mudança.

Além do estilo de vida, outras questões que costumam interferir na infertilidade dos homens são infecções, como clamídia e gonorreia, traumas físicos nos testículos ou regiões muito próximas, ejaculação retrógrada – quando o sêmen é lançado para a bexiga –, azoospermia – ausência de espermatozóide no sêmen – e a varicocele. 

Essa última é uma disfunção do sistema circulatório e uma das principais causas da infertilidade masculina, pois compromete a qualidade do sêmen. Giuliano explica que a condição tem tratamento, portanto, é importante que o homem procure um médico se perceber varizes bastante aparentes nos testículos.

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Quando desconfiar. Mulheres de até 35 anos podem passar até um ano tentando engravidar antes de procurar ajuda especializada, explica o médico. “A partir dos 35 anos de idade, é preciso investigar as causas da dificuldade para engravidar depois de seis meses tentando. Há um declínio na quantidade e na qualidade dos óvulos. A fecundabilidade diminui”, explica Bedoschi.

Para os homens, a investigação costuma iniciar com uma conversa com o médico sobre o histórico do paciente. Se necessário, o especialista pode pedir um espermograma, exame que identifica três parâmetros: a quantidade de espermatozóides, a motividade – ou seja, como eles se mexem e quantos nadam ‘para frente’ – e o formato.Quando se constata alguma alteração, o médico poderá indicar o tratamento necessário.

Bedoschi alerta que o fim do tabu sobre o tema é imprescindível para que os homens procurem ajuda profissional. Além disso, ele ressalta que muitos casos de infertilidade têm solução. “Não é porque o casal procura um especialista em reprodução que será feita uma fertilização in vitro”, tranquiliza. Ele afirma que a concepção natural é, sempre que possível, a primeira opção. 

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