Noni, a fruta que promete combater tumores e diabetes: comer ou não comer?

Reconhecido pela grande quantidade de antioxidantes, fruto famoso na medicina oriental deve ser evitado, segundo as autoridades

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Consumi no sudeste asiático há pelo menos 2 mil anos, o noni é queridinho da boa alimentação por ter alta concentração de antioxidantes. Foto: Reprodução/Pixabay

Consumido na Ásia há pelo menos 2 mil anos, o noni, um fruto bastante parecido com a fruta-do-conde, está se tornando cada vez mais conhecido por aqui. Na medicina popular oriental, ele é receitado para combater desde dores no corpo até tumores ou diabetes. No entanto, ele ainda é visto com cautela no ocidente devido à falta de estudos científicos acerca de seus efeitos no organismo e à ligação com possíveis danos no fígado e nos rins. 

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Os supostos benefícios do consumo do fruto ou de chás, pílulas e sucos são extraordinários. Segundo vendedores - e parte da medicina popular asiática -, ele é basicamente 'pau para toda obra': serve para combater de febre a câncer, de inflamação a mal de Alzheimer, de infecção a asterosclerose. 

Natural do sudeste asiático, o noni é bastante consumido no Taiti (maior produtor mundial), Polinésia, Malásia, Filipinas e algumas regiões do Japão e da China. Ele tem um sabor bastante amargo e, portanto, costuma ser consumido em sucos e chás. Aliás, uma simples busca no Google pelo termo 'chá de noni' traz quase 400 mil resultados.

A infusão traz um dos benefícios do fruto: a alta concentração de antioxidantes, algo que a ciência já provou que ele tem de sobra. Essas substâncias combatem os radicais livres que, em excesso, oxidam nossas células, um processo que está associado ao envelhecimento precoce e a várias das doenças crônicas - dentre as mais complicadas, o desenvolvimento de tumores. 

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Esse é um dos motivos que explica o vai-e-vem no seu consumo. “Com a moda do antienvelhecimento, as pessoas procuram os alimentos que contenham antioxidantes para prevenir doenças e o próprio envelhecimento. O noni é um deles”, explica a médica endocrinologista Giovanna Carpentieri, que faz doutorado em tratamentos nutricionais para o emagrecimento na Unifesp.

De fato, um estudo feito pela Universidade Federal do Semi-Árido (UFFERSA), do Rio Grande do Norte, e pela Universidade Federal de Viçosa (UFF), de Minas Gerais, mostrou que o noni tem concentração de vitamina C superior a outros alimentos, como o mamão, o melão ou o abacaxi. E a vitamina C é conhecida por ser um poderoso antioxidante.

Outros estudos feitos tanto no Brasil quanto na Europa e nos Estados Unidos apontam para a presença de vitamina A, polifenóis, fitoquímicos e outras substâncias que ajudam a nutrir células e tecidos do organismo. 

Fruto pode causar danos no fígado e nos rins. Foto: Reprodução/Pixabay

Falta de provas. As poucas e boas notícias param por aí. Na realidade, há pouquíssimas pesquisas científicas sobre os efeitos do noni no organismo, o que o torna uma incógnita para a medicina ocidental. Não há estudo que prove que o fruto promova a perda de peso, por exemplo, que é um dos benefícios alegados. “Os estudos são inconclusivos. Não conhecemos muito bem a composição dele e ainda há indícios de que ele causa toxicidade no corpo”, explica a presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN), Olga Amancio. 

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Possíveis danos ao fígado e aos rins, aliás, são apontados em algumas pesquisas. No Congresso Brasileiro de Toxicologia feito em 2007, por exemplo, pesquisadores apresentaram um trabalho no qual analisaram os efeitos do extrato aquoso do noni em ratas grávidas. Os autores concluíram que o consumo pode provocar efeitos adversos na gestação desses animais.

Outro estudo reuniu 96 voluntários, que beberam o suco de noni durante dois meses. Três pessoas desistiram da pesquisa e uma precisou ser retirada por ter um nível elevado de ALT e AST, uma enzima produzida pelo corpo quando há danos no fígado.

Essas e outras pesquisas que registraram efeitos tóxicos do noni no organismo são usadas como um dos argumentos para que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíba, desde 2007, o plantio e a comercialização do fruto no Brasil. Um dos estudos sugere que a explicação seria a presença de antraquinonas na raiz da planta, substâncias que, no noni, têm ação antibacteriana, fúngica e viral, mas que são metabolizados no fígado e, ingerido em excesso, podem causar danos hepáticos.   

Em um informe técnico, a agência afirma que faltam estudos que provem a segurança em consumir o noni - e ressalta os possíveis danos ao organismo. “Os produtos contendo Noni não devem ser comercializados no Brasil como alimento até que os requisitos legais que exigem a comprovação de sua segurança de uso sejam atendidos”, diz o comunicado de 2007.

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Essa decisão também leva em base pronunciamentos de órgãos de outros países. Em 2014, o Federal Food and Drug Administration (FDA, órgão com funções semelhantes às da Anvisa) chamou a atenção de empresas que vendiam produtos com substratos do noni alegando que eles tinham poder de cura. Para o FDA, as alegações são falsas porque faltam provas que sustentem os slogans publicitários.

O recado que tanto autoridades quanto profissionais da saúde dão, portanto, é evitar o noni. “É necessário esperar mais pesquisas da literatura para definir se esse produto é adequado ou não para o consumo. Ele pode fazer mal”, diz a nutricionista Olga Amancio, que também é professora da faculdade de medicina da Unifesp.