O Estado de São Paulo vai ganhar hoje, oficialmente, uma Unidade de Referência em Agricultura Ecológica. Está marcado para as 10h da manhã a ida da secretária estadual de Agricultura, Monika Bergamaschi, para a Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento (UPD) de São Roque (Av. Três de Maio, 900, bairro Cambará, São Roque, SP) para assinar a documentação que confere à UPD o novo status, reivindicado pelo movimento orgânico e encabeçado, nessa batalha, pela Câmara Setorial de Agricultura Ecológica, presidida pela engenheira agrônoma Ondalva Serrano - que também foi, até abril deste ano, presidente da Associação de Agricultura Orgânica (AAO).
Embora o reconhecimento oficial vá ocorrer hoje, há anos a unidade, subordinada à Agência Paulista de Tecnologia no Agronegócio (Apta), trabalha difundindo os conceitos do cultivo agroecológico.
Conforme relata o chefe da UPD, o engenheiro agrônomo Sebastião Wilson Tivelli, a unidade foi se convertendo à agroecologia por causa do avanço da área urbana de São Roque até os limites da unidade, onde anteriormente eram feitas pesquisas principalmente com flores - nas quais se aplicavam agrotóxicos.
Nesta unidade também se desenvolveram variedades de uva cultivadas em várias regiões do País, inclusive no Sul. Já na fase agroecológica, uma variedade de cebola própria para cultivo orgânico foi desenvolvida, a Alfa Tropical.
Após o importante reconhecimento oficial da unidade, o atuante movimento agroecológico já tem os passos seguintes traçados. Conforme explica Ondalva Serrano, "vamos trabalhar na elaboração de uma Emenda Parlamentar Coletiva que aporte recursos para essa unidade se consolidar", diz. "Esperamos poder contar com a colaboração das Secretarias de Agricultura e do Meio Ambiente para o sucesso dessa reivindicação, que assegurará, já para 2014, recursos para que a UPD São Roque efetivamente se consolide como polo irradiador de ensinamentos agroecológicos."
Cursos de agroecologia
Mesmo com poucos recursos, a UPD São Roque vem atuando, desde dezembro do ano passado, na formação de técnicos extensionistas em agroecologia, para que eles sirvam de multiplicadores do cultivo orgânico em todo o Estado. Estes técnicos serão responsáveis, segundo Tivelli, por passar as orientações técnicas e normativas sobre agricultura ecológica, além de orientar e atender, por meio do programa São Paulo Orgânico, a linha de financiamento à agricultura ecológica, lançada este ano pelo governo de SP, dentro do Feap/Banagro.
A intenção é formar, até dezembro deste ano, 200 técnicos. Até agosto, 120 já haviam sido formados na UPD São Roque. Além de noções de cultivo de hortaliças, fruticultura, cafeicultura e grãos pelo sistema agroecológico, há também aulas sobre comercialização, mercado de orgânicos e certificação, além de duas visitas técnicas a produtores orgânicos consolidados. "Esses técnicos atenderão os interessados dentro das casas da agricultura e também no Itesp, que cuida dos assentamentos rurais", diz Tivelli, que acrescenta: "Muitos vêm para cá fazer o curso com um pré-conceito sobre a agricultura orgânica e saem com a certeza de que é possível, sim, produzir sem os recursos da agricultura convencional, como adubos químicos e agrotóxicos".
Com esse programa, o agricultor que estiver interessado em iniciar um cultivo orgânico terá, finalmente, a opção de procurar um técnico especializado do Poder Público, que dará gratuitamente as orientações. "O produtor rural poderá escolher entre a agricultura orgânica e a convencional, porque agora terá as duas alternativas para obter assistência técnica, quando antes só tinha um caminho via poder público: o da agricultura convencional", destaca a engenheira agrônoma especializada em agricultura orgânica Araci Kamiyama, da Secretaria do Meio Ambiente. "É a agricultura orgânica se tornando objeto de política pública, o que é extremamente importante", complementa.
Ao fim do curso, Tivelli comenta que a intenção é que haja pelo menos um técnico formado em agroecologia em cada regional agrícola do Estado de São Paulo. Atualmente há 40 regionais espalhadas no Estado e 585 municípios com técnicos extensionistas da Secretaria de Agricultura, para um total de 645 municípios. "Serão os multiplicadores da agroecologia no território paulista", comemora Tivelli.
Nos assentamentos
É o que espera, por exemplo, o técnico em desenvolvimento agrário Antonio da Silva Pinto, que trabalha no Instituto de Terras de São Paulo (responsável pelos assentamentos rurais do Estado), o Itesp, em Sorocaba. "Há mais de dez anos o Itesp vem apoiando a agroecologia", conta Silva Pinto. "Nos assentamentos nos quais eu trabalho, em Iperó e Itapetininga, já difundo a agricultura orgânica", continua ele, acrescentando que, de 400 famílias assentadas, 25 já são convertidas à agroecologia, basicamente com o cultivo de hortaliças e de banana.
Com o curso na UPD São Roque, Silva Pinto diz que busca aperfeiçoar seus conhecimentos, principalmente em ferramentas que convençam os agricultores a aderir ao cultivo agroecológico. "Não adianta só falar; tem de mostrar. Por isso vim aprender técnicas que não conheço e me atualizar sobre as que eu já conheço."
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