Dia 6 de dezembro é dia de São Nicolau.
Nicolau nasceu na Turquia e perdeu os pais muito cedo. Viveu órfão de casa em casa. E de cada casa que ele partia, levava um brinquedo que lhes tinham feito. Quando cresceu, Nicolau passou a fabricar brinquedos com as próprias mãos para que quando chegasse o Natal, ele pudesse ir, de casa em casa, distribuindo às crianças. Uma forma de retribuir o que um dia recebeu.
Mas com a delicadeza do tempo, um dia Nicolau envelheceu. E faleceu. Levou para o céu - ou para o Pólo Norte - a tradição de fazer brinquedos e dar às crianças na noite de Natal. Hoje é mais conhecido como Papai Noel, esse senhor de longas barbas brancas.
Presente é sempre um jeito carinhoso de agradecer ou retribuir. Pode ser concreto ou não. Material ou simbólico. Mas confesso que não existe melhor presente do que o de estar presente. Ser ou estar. Verbo conjugado em qualquer tempo verbal. É o existir na vida de alguém e fazer disso uma convivência. O que nos faz retribuir em presenças - e presentes - o que recebemos no Natal.
Porque vale mais a casa cheia. A família reunida. O barulho de risada e de quem não para de falar. Ou mesmo o silêncio de quem não sabe o que dizer. Vale o encontro tímido e o encontro do abraço apertado. Daqueles que espreme o que recebe. O sentido de tudo vem daí: do estar presente, o de se fazer presente, o de sentir-se presente. Isso é casa cheia. Isso é amor que preenche espaço nas nossas vidas. Isso é o que chamam de Natal ou de Papai Noel. Simbologias que a vida nos cria pra explicar coisas que não são explicáveis.
Tem uma frase popular que diz que mais do que oferecer riquezas ao outro como dádiva, devemos levá-los a descobrir suas próprias riquezas. Porque cada um é único e tem sua história para contar. E só somos capazes de oferecer riquezas nos encontros. Na intersecção entre as pessoas. Entre almas. Entre vidas. Na presença do presente. Ou no presente de poder estar presente. Porque a origem da palavra é uma só e não existe razão para perdermos isso de vista.
Ainda bem que existe o Natal. Ainda bem que existe São Nicolau. Para que a gente exercite, desde pequenos, a possibilidade de olhar ao outro com compaixão. Com igualdade. Com agradecimento. Com gratidão. A palavrinha que tanto usamos e pouco sabemos do que se trata. Só somos capazes de dar aquilo que recebemos. Quando somos gratos - ou agradecidos - a alguém, somos capazes de retribuir. Isso é gratidão. O ser capaz de dar de volta. De retribuir.
É o que faz São Nicolau todo dia 6. É o que faz o Papai Noel todo Natal. Eles retribuem e nos dão a oportunidade de retribuirmos. As pessoas que estão em nossa presença. Aos que nos são presente. Com o gesto carinhoso do presente e da presença. Uma época em que somos capazes de despertar os sentimentos mais doces e humanos que existem dentro de nós. Somos capazes de dar e doar, sem pedir nada em troca. Porque a vida tem sentido de troca e não de cobrança.
Por muitos sapatinhos na janela. Por muitas surpresas. Por muitos pães de mel e nozes. Por muitas luzinhas. Por muitas árvores de Natal. Por muita simbologia. Por muitas casas cheias. Por muitos corações preenchidos. E que a delicadeza do tempo possa nos dar a possibilidade de retribuir. Tem a ver com agradecer.
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