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Comportamento Adolescente e Educação

Nomofobia: o medo de ficar longe das telas afeta saúde mental de crianças e adolescentes

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Foto do author Carolina  Delboni

Segundo Pesquisa Panorama de 2022, quase metade (44%) das crianças brasileiras com até 12 anos têm seu próprio celular. Estudos também apontam que uma a cada seis meninas e meninos sofram algum tipo de transtorno mental. Mas qual a relação entre esses dois dados? Entenda.

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Muito tem se atribuído os altos índices de transtornos mentais - ansiedade e depressão - de crianças e adolescentes ao uso irrestrito das telas, principalmente das redes sociais. De um lado, médicos e psiquiatras que afirmam a correlação entre ambos fatores. De outro, acadêmicos que não negam os dados, mas contestam a influência direta de um sobre o outro.

Uma publicação feita pelo jornal The New York Times, em janeiro deste ano, comentou sobre a correlação entre a proliferação de algoritmos que viciam e o colapso da saúde mental dos jovens, incluindo fatores como a depressão, pensamentos suicidas e automutilação. No artigo, a colunista Michelle Goldberg menciona os impactos catastróficos em relação ao uso excessivo de Instagram e TikTok, que estimulam padrões de beleza e popularidade irreais e, que afetam o comportamento dos adolescentes, em especial as meninas.

Fato é que vivemos uma epidemia de excesso de tela, altos índices de ansiedade e uma sociedade totalmente viciada. Os americanos nunca cunharam tantos termos para denominar tantos vícios. Nomofobia é um deles, até então usado para pessoas com mais idade, mas que agora expandiu a categoria.

Mas o que é nomofobia? A palavra vem de "no mobile phobia" (fobia de ficar sem celular, em tradução literal). É o termo usado para descrever o medo irracional ou a ansiedade de ficar sem o celular, ou de não ter acesso à internet, podendo causar ansiedade e isolamento.

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Segundo informações do artigo "Nomofobia: uma tendência crescente entre estudantes", publicado no Psychology Today (2019), apesar de não ser um termo oficialmente reconhecido pela comunidade médica, tem sido estudado e utilizado desde 2008, para descrever o comportamento de dependência e o sentimento de angústia que algumas pessoas, principalmente adolescentes, demonstram quando não têm o celular por perto.

Fobia de ficar sem o celular já atinge crianças e adolescentes. Foto Nijieimu/ Adobe Stock  

Uso de telas e transtornos mentais: evidências e debates

Uma pesquisa conduzida pela Western University encontrou uma ligação relevante entre o tempo de tela e os níveis de ansiedade e depressão em crianças. O estudo, liderado pela professora de neurociência e distúrbios de aprendizagem Emma Duerden, no Canadá, coletou dados durante a pandemia (2020-2021), indicando que as crianças passaram mais do que o dobro do tempo recomendado em frente às telas. Ou seja, de pouco menos de seis horas por dia, para impressionantes 13 horas por dia, quase todos os minutos acordados, o que colaborou para o aumento de transtornos mentais na época.

Além disso, um levantamento da American Academy of Pediatrics (2023) também associa o uso excessivo de mídias sociais a problemas de sono, baixo rendimento escolar e aumento de comportamentos agressivos.

O best-seller de Jonathan Haidt, "A Geração Ansiosa", tem levantado um intenso debate sobre a relação entre smartphones, redes sociais e adolescentes. Enquanto alguns veem o livro como uma visão alarmista, outros acreditam que ele levanta pontos importantes sobre a necessidade de regulamentação e educação sobre o uso de tecnologia.

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Por exemplo, Haidt apresenta estatísticas sobre a saúde mental dos jovens, destacando o aumento acentuado de ansiedade e depressão a partir de 2012, visível não só nos EUA, mas também em outros países desenvolvidos. O autor explicou como a redução do tempo de brincadeiras ao ar livre e a supervisão excessiva dos pais prejudicaram o desenvolvimento social e emocional das crianças.

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Ele argumenta que as crianças precisam de brincadeiras livres para se tornarem resilientes e capazes de avaliar riscos, mas a sociedade tem privado os jovens dessas experiências importantes há algum tempo. Em junho deste ano, o médico-geral Vivek Murthy, principal autoridade de saúde dos Estados Unidos, emitiu um aviso propondo a inserção de um rótulo de advertência nas plataformas de mídias sociais. A proposta do regulamento visa ser uma medida inicial para combater os danos causados pelo consumo excessivo de conteúdo digital e pela hiper conexão mantida pelos aplicativos.

O que fazer com esta "tal" nomofobia?

Por ser um tipo de vício, a nomofobia está relacionada à acessibilidade integral dos smartphones e outros dispositivos eletrônicos. Em outras palavras, as pessoas têm a falsa sensação de estar em controle o tempo todo de tudo e de todos, não perdendo nenhum detalhe, o que por vezes, causa sentimentos de angústia e frustração.

Segundo o Instituto de Ciências da Educação (IES), para lidar com a nomofobia dos filhos, os pais podem adotar algumas estratégias simples. Uma delas é estabelecer limites claros para o uso de dispositivos móveis, incentivando períodos regulares sem tecnologia para promover atividades offline.

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Criar ambientes livres de tecnologia em casa, como durante as refeições ou na hora de dormir, pode reduzir a dependência dos dispositivos. Conversar abertamente com as crianças sobre os riscos associados ao uso excessivo da internet é fundamental, ensinando sobretudo, a respeito do comportamento online responsável. E se for o caso, oferecer apoio emocional, consultando um psicólogo para iniciar uma terapia e outros tratamentos paliativos, que ajudem a lidar com essa ansiedade gerada pela falta do celular.

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